Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia | Page 24

8 iMagazine / April, 2013

Nossa prática profissional. Como pensar em desenvolvê-la de maneira salubre para melhor e mais eficazmente atingirmos nossos objetivos profissionais, sobretudo quando avaliamos que resultados positivos ou negativos muito dependem da forma como encaramos os percalços inerentes a cada profissão. E não podemos deixar de citar aqueles obstáculos, que muitas vezes insistimos em criar, quando o mesmo, por natureza, não existiria. O relato que se seguirá adiante, melhor elucidará o trecho acima, pois tem a intenção de trazer elementos para reflexão, com base em uma experiência de trabalho que tive. Este trabalho foi realizado em parceria com o abrigo o qual trabalhava e a escola que os adolescentes acolhidos institucionalmente, desse abrigo, frequentavam. O objetivo é dividir as vivências, visando contribuir e demonstrar através das ações implementadas, o quanto podemos melhorar nossa prática profissional, tornando-a mais saudável, auxiliando na preservação de nossa saúde mental, em benefício de nossa qualidade de vida psíquica, bem como daqueles com os quais trabalhamos. Estas vivências demonstram o quanto nossas atitudes podem melhorar nossos relacionamentos interpessoais, possibilitando através das mesmas, e na busca de compreensão e entendimento do outro, tornar nossos objetivos profissionais efetivamente realizáveis.

Uma vez que o relato a seguir falará sobre abrigo, cabe aqui, antes de mais nada, esclarecer minimamente que acolhimento institucional de crianças e adolescentes é medida provisória e excepcional, uma das oito medidas prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA – para protegê-los quando seus direitos forem ameaçados ou violados. Só deve ser aplicada quando se esgotarem todas as tentativas de permanência da criança ou adolescente na família. Os acolhimentos se dão pelos mais variados motivos, dentre eles: orfandade, abandono, quadros de violência doméstica, seja física ou psicológica, abuso sexual, negligência, pais com uso abusivo de álcool ou outras drogas. Embora o ECA preconize que a falta de recursos materiais não deva ser razão para afastamento da família, este motivo, segundo pesquisas, termina sendo uma das maiores causas de acolhimento nas instituições de abrigo. Vale ressaltar que atualmente o abrigo recebe o nome de: SAICA - Serviço de Acolhimento Institucional para Criança e Adolescente.

Enquanto estão no abrigo, o mesmo, juntamente com a Vara da Infância e Juventude buscam caminhos para reverter o acolhimento, desenvolvendo trabalho junto às famílias para que os motivos que os levaram a serem acolhidos sejam resolvidos, porém, nem sempre os resultados são positivos, pelas mais diversas razões. Quando a reinserção no grupo familiar, de origem (pai/mãe) ou extensa (tios, avós, entre outros), se torna impossível, a alternativa é encontrar uma família substituta – adoção. Porém, em alguns casos, apesar de todos os esforços e tentativas, a criança ou adolescente vai permanecer institucionalizado até os dezoito anos de idade, como determina a lei.

Diante da situação de acolhimento institucional e do excesso de tempo que podem permanecer institucionalizados, não rara as vezes desenvolvem comportamentos tais como: agressividade, dificuldade de aprendizagem, dificuldade de relacionamento, depressão, insegurança, dependência, medos, dificuldade de controle de esfíncteres, ansiedade, problemas de conduta antissocial, enurese noturna, questões relacionadas à sexualidade. E tudo isto desemboca na escola, e por vezes, sem o conhecimento necessário pela mesma, da problemática que envolve o acolhimento institucional.

Desta forma, podemos deduzir que um dos elementos primordiais para a realização de nossa prática profissional é estarmos cientes e conscientes do nosso objeto de trabalho. Conhecer as escolas, assim como o abrigo, foi fator indispensável e necessário para entender o contexto desses dois ambientes, a relação existente entre ambos, o público em comum atendido, da vida pregressa deste, para avaliação e planejamento das ações, em bases reais e concretas.

Além do mais, seria impraticável desempenhar o meu trabalho dentro do abrigo, e atingir os meus objetivos, sem ter conhecimento da vida escolar desse público: nível de aprendizagem, desenvolvimento cognitivo, possíveis dificuldades no aprendizado, socialização, dentre outros quesitos.

PATHOS / V. 01, n.01, 2015 23