Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia | Page 17

PATHOS / V. 01, n.01, 2015 16

A reincidência é outra nuance marcadora de lugar. Tornar-se conhecida, experiente na “arte de puxar cadeia” vai revelando aos poucos habilidades para lidar com os conflitos do dia a dia e até mesmo como intermediárias entre a carceragem e as mulheres do pavilhão. Algumas mulheres realizavam excelentes mediações de conflitos por motivos diversos (brigas conjugais, roubos, dívidas, fofocas, etc.) e o faziam muito bem, conforme pudemos ouvir em algumas dinâmicas. Pessoas como estas, fortalecem suas identidades no grupo e dentro da “ética do sistema” desenvolvem seu senso de justiça.

O crime cometido e seus desdobramentos também são marcas identitárias geradoras de status ou exclusão. Algumas questões são abominadas, como por exemplo, violência contra a criança, delação (X-9, cagueta, dedo-duro, fura-olho) e outras valorizadas, como a gerência de um ponto de tráfico.

A constituição destas identidades baseadas numa relação subjetiva que qualifica suas internas, também divide o uso de seus espaços. Além do isolamento no RO (reclusão obrigatória) por mau comportamento, há destinos ambientais para psiquiátricos e as que por motivos diversos estão “juradas”. Nestes casos, a compartimentação é o caminho.

Os galpões de trabalho e a biblioteca são espaços de disputa. De acordo, com falas “não intencionais”, quando o presídio está meio que sob o domínio de um crime organizado há um ditame de seus integrantes para estas vagas, tal como um acordo entre ordem-paz e regalias aos participantes. Assim, o projeto se constituía em sua maioria, dessas integrantes.

Vídeo ilustrativo da vida em cadeira