Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia | Page 14

8 iMagazine / April, 2013

No ano 2000, nos reunimos com um grupo mulheres e fundamos o Centro de Integração da Mulher – CIM, Organização Não-governamental (ONG) de cunho feminista, em Guarulhos - São Paulo. Dos diversos temas trabalhados pela instituição, a educação para igualdade de gênero sempre foi o objetivo mais importante. Dentre os grupos atendidos com atividades informativas, educativas e campanhas de conscientização, as mulheres e as meninas estiveram no centro do processo formador e as temáticas centravam-se na violência sexista, sexualidade, relações de gênero, feminismo, cidadania e direitos humanos.

A realização das atividades na ONG atendeu a diversos segmentos sociais e à diversidade de condições e situações de mulheres e meninas. Grupos específicos e mistos foram atendidos, discutidos, formados e estudados. Mulheres líderes de comunidades, educadoras, empregadas domésticas, profissionais do sexo, mulheres vivendo com HIV, lésbicas e bissexuais, mulheres em situação de pobreza, integrantes de movimentos de moradia e em situação de privação de liberdade (sistema prisional).

A situação das mulheres privadas de liberdade despertou-nos muito interesse. Em 2005, passamos a integrar o Grupo Espírita “Joaquim Alves, Walter Venâncio” que realiza há mais vinte e cinco anos visitas nas penitenciárias de São Paulo. Aos sábados na Penitenciária Feminina de Santana diversos grupos religiosos adentram ao presídio a fim de prestar assistência religiosa e humana às pessoas presas. Amparados pelo Decreto Estadual/SP 44.395/99, os grupos são subordinados à Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) e podem ter acesso a todas as dependências do estabelecimento.

A realidade das mulheres encarceradas e a aproximação diante de seus relatos despertaram-nos ainda mais o ensejo de realizar trabalhos voltados a este segmento, que foi imediatamente acolhido pelas integrantes da ONG. Para almejar este objetivo, nos propomos a escrever um projeto que contemplasse não só o aspecto cognitivo com informações e conteúdos, mas que pudesse promover momentos para a interação social, a afetividade, e a ressignificação das identidades por meio de práticas pedagógicas diferenciadas.

Desejos e necessidades

A RELAÇÃO PROCESSO-PRODUTO NA CONCRETIZAÇÃO DO CURSO

A proposta demandou um grande trabalho de planejamento para a definição da concepção do curso e sua estrutura, considerando as especificidades do segmento e do espaço físico. Já tínhamos uma breve ideia do perfil das reeducandas e suas peculiaridades – geralmente são desconfiadas, com baixa tolerância aos pontos de vistas diversos e com certa dificuldade para estabelecer trabalhos colaborativos. Porém, grande parte das internas desenvolveram ao longo do encarceramento habilidades manuais excelentes.

Esses apontamentos influenciaram de forma significativa a modulação do projeto de curso – atuar nas dificuldades, potencializando as habilidades. Este preceito foi decisivo para a elaboração final da proposta.

PATHOS / V. 01, n.01, 2015 13