Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia | Page 10

8 iMagazine / April, 2013

Quando a família demonstra credibilidade ao relato da criança e assume estratégias para protegê-la, esta se sente fortalecida e apresenta maiores recursos para enfrentar a experiência abusiva.

Quando a família demonstra credibilidade ao relato da criança e assume estratégias para protegê-la, esta se sente fortalecida e apresenta maiores recursos para enfrentar a experiência abusiva. Contudo, quando a reação da família é negativa e esta não oferece apoio social e afetivo a vítima vivencia situação de vulnerabilidade, podendo desenvolver problemas tais como isolamento social, depressão, pensamento e tentativas de suicídio, ansiedade, entre outros (HABIGZANG, 2011).

Portanto, é de capital importância no atendimento psicossocial oferecido pelo Serviço de Proteção avaliar tanto a percepção da vítima sobre o fato como de outros familiares diretamente envolvidos com a questão e especial a figura materna (SANTOS, 2008).

O que se tem sido observado dentro do processo psicossocial que após a revelação as mães passam por algumas etapas devido a sobrecarga emocional relativa tanto a revelação como ao longo processo jurídico:

- um período em que há a necessidade de elaborar e aceitar aquilo que foi desvelado pela criança ou adolescente – se é verdade ou não

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- a necessidade de lidar com a culpa – sofrimento advindo “da fantasia de dever proteger integralmente a prole de qualquer perigo” (OLIVEIRA, 2012) versus a confiança perdida no caráter do agente abusador;

- ter que enfrentar um longo processo judicial onde a palavra da criança ou adolescente é a única prova;

- participar junto com a criança da produção de provas através de laudos, encaminhamentos;

- quando as visitas monitoradas são determinadas pelo poder judiciário e devem acontecer dentro do CEVAT, a mãe tem outra carga emocional: crianças e adolescentes podem ser ameaçadas pelo agente agressor ou a ameaça recair na figura da mãe;

- com a judicialização e, portanto, a busca de responsabilização daquele que perpetrou o abuso, a mãe se exige e acaba exigindo da criança ou adolescente abusado de que não esqueça o ocorrido. A mãe fica atenta a qualquer alteração no comportamento ou no desenvolvimento da criança ou adolescente atribuindo aquilo que considera negativa ao abuso sofrido. O evento abusivo é lembrado e relembrado de diferentes maneiras pela mãe.

Uma outra questão relatada pelas mães refere-se ao temor de que crianças pequenas esqueçam ou revelem o abuso de maneira que os juízes venham não acreditar no ocorrido ou pior, acusem-nas de alienação parental. Outra questão que vale ressaltar e é observada em nossa prática, a existência de mães que mesmo tendo procurado ou sendo encaminhada para atendimento de seus filhos preferem ou acreditam que o não falar permitirá um desenvolvimento tranquilo e sem