Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume Especial COVID-19 | Page 75

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PATHOS / V.. Especial , Set. 2020 74

Como uma espécie não somente de chance de elaboração e manifestação dos desejos, os sonhos poderiam aqui funcionar como uma espécie de memória, exercendo a função de espelho de nossa própria história, nos dando, mesmo que de forma incômoda, um reflexo de nossas marcas psíquicas mais relevantes e por vezes, traumáticas. Embora entendemos a situação angustiante e indigesta que alguns sonhos podem trazer ao individuo, fazemos questão de marcar tal fenômeno como algo potencial de elaboração, uma vez que tais sonhos nos fazem lembrar de algumas situações vividas, e assim, talvez, como uma espécie de alerta e de prova, nos possibilitar a sensação de que possuímos condição de enfrentamento e não somente como uma repetição e revivência pura e simples da cena traumática.

B) “O impedimento de sonhar e o surgimento da repressão”

A manifestação onírica foi vista, entendida e interpretada por Freud (1900/1996), como uma forma de se acessar os próprios desejos reprimidos. Tal caminho percorrido e acesso pela consciência daria ao sujeito a possibilidade de conhecer mais de si mesmo e de seu mundo interno. No presente momento, a partir de uma vivência social altamente repressora (pandemia, confinamento e isolamento social), identificamos também em parte dos participantes da pesquisa, pessoas que relataram ausência de produção de sonhos e/ou que chegam a sonhar, mas não possuíam lembrança dos conteúdos.

Não tenho tido sonhos e pesadelos (sic).

Sim! Mas não me lembro, sonhos sem pé e cabeça (sic).

Não, zero sonhos (sic).

Não tenho, ou tenho insônia ou durmo sem lembrar de nada (sic).

Não consigo lembrar, mas tenho tido muitos sonhos/pesadelos (sic).

Pesadelo não, mas tenho tido menos sonhos (sic).

Infelizmente, ainda não consigo lembrá-los, logo, eu não sei se tenho pesadelos (sic).

Tenho sono mais agitado, não sei se são pesadelos (sic).