Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume Especial COVID-19 | Page 63

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PATHOS / V.. Especial , Set. 2020 62

O que se torna certo, correto e adequado corre o risco de passar a ser uma cartilha hipócrita e impossível de ser seguida. Os dados são passados por vezes carregados de símbolos e marcas que definem e conduzem a forma de ver e entender o mundo. Se antes do Covid-19, com a autorização pseudodemocrática ofertada pela internet de dar voz a “todos”, ao que “todos podem” opinar sobre tudo o que quiser, hoje, frente a pandemia, o lugar de julgamento do outro ocupa, certamente, as primeiras paradas de sucesso.

Paramos para pensar como tal vivência cultural opressora poderia nos afetar, uma vez que, por vezes, podemos ocupar os dois lugares, tanto o de julgador como o de julgado. Acreditamos assim como Bauman (2001), que parte da população se torna escrava de uma velocidade de informações, com a urgência por definições rápidas e precisas, tendo como principal recurso o surgimento e a manutenção dos estereótipos, e com isso também, o surgimento de mais sintomas.

Dessa forma, são alguns desses inúmeros sintomas humanos que nos convocam, enquanto pesquisadores, a nos debruçarmos na tentativa de entender o impacto do Covid-19 em parte da população adulta brasileira.

MÉTODO

No período de abril a junho de 2020, 174 brasileiras e brasileiros responderam a um questionário semiestruturado, por nós desenvolvido, contendo 14 perguntas, subdivididas em questões abertas e fechadas. Tal questionário focou nos efeitos psicossociais decorrentes da quarentena e pandemia do COVID-19 sobre uma parcela da população adulta brasileira. Utilizamos como método de aplicação e coleta de dados a ferramenta disponibilizada pelo Google Forms.

A participação foi totalmente voluntária e o questionário ficou disponibilizado online durante o período de 3 meses. Quanto as características sociodemográficas da amostra pesquisada, dos 174 participantes da pesquisa, 127 se autodeclararam mulheres e 47 homens. Cerca de 80% residem no estado de São Paulo e, os demais, distribuem-se entre algumas cidades do sudeste e sul do país. Uma pequena parcela dos participantes (4,5%) foi composta, também, por brasileiros residentes em cidades da Europa e América do Norte. Em relação as idades, a faixa etária variou de 21 a 75 anos, de diferentes classes socioeconômicas, níveis de instrução e áreas de atuação profissional.