Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume Especial COVID-19 | Page 60

INTRODUÇÃO

Resolvemos começar esse texto pelo fim. Nós, editores da Pathos, gostaríamos de deixar aqui nosso abraço para às pessoas que, gentilmente, responderam nossa pesquisa. Sabemos que normalmente abraços são dados no final, mas resolvemos inverter nosso texto/encontro, começando por desejar algo que nos faz tanta falta nos dias de hoje.

Estamos passando por um momento único e dramático na história da humanidade e as respostas que vocês tão generosamente forneceram ajudam-nos, de alguma forma, a tentar compreender os sentimentos e comportamentos que nos acompanham nos dias de hoje.

A presente pesquisa fornece uma possibilidade de encontro afetivo que nos convoca a olhar para nós mesmos em tempos de pandemia. Acreditamos que o universo adulto, regido socialmente por seus protocolos concretos, cotidianos e práticos, vem sendo mobilizado e convocado a um novo lugar, sendo repensado na situação de enfrentamento do Coronavírus.

Dessa forma, nosso dia a dia, potencialmente afetado e transformado pelo COVID-19, pode nos levar a uma nova possibilidade de Ser e Fazer subjetivo e social. Questionamo-nos como isso vem sendo sentido e vivido pela população adulta brasileira e quais suas repercussões e possíveis modificações, sejam elas benéficas ou não.

Assim, pensamos se as possíveis manifestações decorrentes do período de pandemia poderiam ser expressadas de maneira consciente e autoral pelos sujeitos, ou se, simplesmente, estaríamos vivendo tais manifestações desprovidos de qualquer tipo de tentativa de consciência e elaboração. Desse modo, correríamos o risco de viver a situação somente como um sintoma, distantes de níveis de elaboração psíquica:

São ‘inconscientes’ em uma sociedade tanto as passagens de sua história relegadas ao esquecimento quanto as expressões silenciadas, cujos anseios não encontram meios de se expressar. Excluído das possibilidades de simbolização, o mal-estar silenciado acaba por se manifestar em atos que devem ser decifrados (Kehl, 2009, p.25).

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PATHOS / V. Especial , Set. 2020 59