Fica em evidência também nesse discurso momentos de consciência e clareza acerca do universo preventivo envolvendo a pandemia, como necessidade de isolamento, cuidado com o contágio, desejo de maior longevidade e responsabilidade por si e pelo outro. Certa maturidade fica evidente nesse discurso e se por um lado temos uma tendência a nos encantar por tal clareza e bom senso por parte das crianças, por outro lado, mais uma vez, nos questionamos se tais preocupações deveriam se fazer tão presentes no universo infantil.
O que supomos pelo que foi analisado, é que provavelmente as crianças, através da capacidade de reprodução, trazem à tona conteúdos vividos em seus próprios lares e instituições acolhedoras, o que poderia denotar clareza de informações, ética social, exemplos de responsabilidade e cuidado consigo mesma e com o próximo. Vale ressaltar que entendemos que tal reprodução de conteúdos não seria algo mecânico, automático e direto, mas sim uma introjeção de valores a partir das experiências vividas nesse cotidiano. A hipótese que levantamos é que o cuidado subjetivo e social demonstrado pelas crianças nesse discurso, seria marcado não somente pelo momento de pandemia vivido, mas por todo lugar de cuidado já desenvolvido anteriormente pelo ambiente no qual elas estão inseridas.
Por acreditar no poder da fantasia, nos lançamos na tarefa de refletir sobre o que as histórias antigas, que ainda não narradas, e as novas, que surgiram modeladas por valores contemporâneos, tem a dizer às pessoas que recorrem a elas. Supusemos que há uma relação pragmática com a ficção, usamos o que nos é útil. Porém, essa utilidade não depende de mensagens diretas. (CORSO e CORSO, 2006, p.303)
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PATHOS / V. Especial , Set. 2020 47