Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume Especial COVID-19 | Page 47

Análise:

Nesse discurso podemos reconhecer a presença da infância relacionada a valorização dos elementos da natureza. Fogo, gelo, oxigênio, sol, espaço, oceano, entre tantos outros elementos ganham protagonismo no olhar das crianças, atribuindo a eles poderes em derrotar o COVI-19. Essa importância dos recursos da natureza, parece evidenciar uma espécie de convocação de preservação do meio ambiente, tornando público e convidativo tal dilema ético. Máquinas e ferramentas, outrora construídas pelo ser humano, também aparecem nesse discurso, como uma forma de auxílio no combate a pandemia, ao que fica evidente uma valorização do que já existe no mundo.

Pensamentos mágicos, artimanhas milagrosas, garantias de resolução tomam conta do imaginário infantil. Uma riqueza de detalhes, conteúdos férteis e imaginativos se apresentam a frente do relato das crianças. Embora sabemos que boa parte desses conteúdos seriam concretamente impossíveis de acontecer, como por exemplo: “Se eu tivesse superpoderes eu levaria todas as pessoas, principalmente a minha família para a lua” (sic), a beleza da fantasia oferta elementos de esperança e de perspectiva de futuro. Tal imaginação é vista como saudável e fundamental para o enfrentamento do cotidiano:

Histórias não garantem felicidade nem o sucesso na vida, mas ajudam. Elas são como exemplos, metáforas, que ilustram diferentes modos de pensar e de ver a realidade e, quanto mais variadas e extraordinárias forem as situações que elas contam, mais se ampliará a gama de abordagens possíveis para que os problemas que nos afligem. Um grande acervo de narrativas, é como uma boa caixa de ferramentas, na qual sempre temos o instrumento certo para a operação necessária, pois determinados consertos ou instalações só poderão ser realizados se tivermos a broca, o alicate ou a chave de fenda adequados. Além disso, com essas ferramentas podemos também criar, construir e transformar os objetos e os lugares. (CORSO e CORSO, 2006, p.303)

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PATHOS / V.. Especial , Set. 2020 46