Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume Especial COVID-19 | Page 29

Iria no futuro descobrir a cura para a doença, talvez uma vacina resolveria, e aí eu voltaria no passado e vacinaria todas as pessoas, assim evitaria as mortes que já aconteceram. Eu faria, muitas, muitas, muitas, vacinas pro mundo todo e pra mim também, para ninguém ficar sem, eu seria o mais forte de todos e testar todos os testes de coronavírus. Com os super poderes eu iria criar bactérias do bem mais fortes que o corona pra um combate, assim o bem vai vencer. Ah eu acho que faria também uma chuva com remédio para cura, podia ser de álcool em gel e sabão, pra que ninguém mais pegasse o coronavírus. Já sei, se eu fosse super heroína eu teria o poder da super inteligência, acharia a cura para o coronavirus e acabaria com ele, ia ser cientista e ia descobrir o remédio para matar o corona vírus, eu poderia ter super inteligência e com super inteligência eu posso descobrir a cura pro vírus. Eu pegava todos os remédios do mundo inteiro e passava no coronavírus, eu acho que ele ficaria bem fraquinho, porque a minha mamãe falou que no hospital onde ela trabalha, tem muita gente doente com o coronavírus, aí eu faria esse remédio para todo mundo que tá doente ficar bom e ai ajudar as pessoas a salvar o dia e trazer a cura de volta”.

Análise:

Podemos perceber, logo no início, o reconhecimento da ciência e dos profissionais de saúde no combate ao coronavírus. A fantasia de parte das crianças fica centrado no poder de ser imune ao vírus em paralelo ao poder de cura. A ambivalência fica expressa nessa reunião de conteúdos, no que por um lado tentam criar uma redoma protetiva em torno de si e, ao mesmo tempo, uma vez infectados, aplicam o desejo do poder se curar.

A busca de saúde singular e coletiva, seja pela imunidade ou pela cura, promove nas crianças representadas por esse discurso um encontro com o pressuposto científico, utilizando da fantasia, o poder da criação de vacinas ou remédios. Ao observar isso podemos pensar que mesmo frente ao convite de caminhar por dentro de seu universo de fantasia, as crianças aqui representadas fazem uso de algo cotidianamente discutido e vivido pela mídia, e provavelmente dentro de seus lares, neste caso, os desafios dos avanços científicos em relação ao COVID-19.

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PATHOS / V.. Especial , Set. 2020 28