Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume Especial COVID-19 | Page 9

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PATHOS / V. 09, n.02, 2019 06

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PATHOS / V.. Especial , Set. 2020 08

No seio da pós-modernidade, por onde se alastram notícias falsas e conspiratórias, a gripe noticiada no diminutivo trazia, desde o início, uma crise que colocava o caráter sanitário da peste no seu devido lugar. Afinal, “sanitário” também costuma designar o local adequado para a série escatológica e obscena de tudo o que nos chega pelo discurso presidencial deste país. Ao encarnar o bufão a serviço dos interesses de poucos endinheirados, o atual governo continua a se esquivar da responsabilidade frente às consequências oriundas do retrocesso de direitos sociais conquistados historicamente.

Estejamos atentos: quantos mil mortos precisam ser computados para que cada um tenha lugar de dignidade, reconhecimento e memória? Apesar de ameaçado, o xamã yanomami nos ensina e segue seu discurso calcado no pensamento de “trabalhar para o bem de todos”, fazendo-nos lembrar do que se trata quando se trata de fazer política (p. 7). Por isso, neste momento, as(os) editoras(es) da revista Pathos apostaram em uma edição especial; uma espécie de lugar reservado à memória destes nossos tempos de pandemia pelo COVID-19.

Como manifesto, sua capa traz a crítica social de nossos tempos a partir do olhar infantil. Elaborada por uma criança que, voluntariamente, nos cedeu sua arte, ela nos remete a duas posições: o cuidado e responsabilidade de uns com os outros representados pelo uso adequado de máscaras e, a inépcia traduzida pela caricatura presidencial que, com sua cegueira proposital, mostra-se omisso e, ao mesmo tempo, atuante em processos de violação e desmonte de direitos constitucionais.

Destarte, no corpo deste volume apresentamos duas pesquisas desenvolvidas pela Pathos. A primeira se debruçou acerca do impacto da pandemia do coronavírus em crianças brasileiras de 04 a 11 anos. Um dos resultados apontou que parte delas utilizam de forma saudável recursos da fantasia no enfrentamento simbólico e concreto da doença, enquanto que outras valem-se mais da realidade e a concretude nesse enfrentamento, mesmo sendo provocadas a responder pelo universo da fantasia. Processos de identificação e agressividade também aparecem como resultados e tal manifestação foi entendida e interpretada como um recurso saudável e valioso do desenvolvimento emocional infantil.