Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 12 | Page 71

Essa concepção de formação é pautada em sua orientação freudo-lacaniana. O AT não é definido por um fazer, tampouco pelo seu caráter itinerante, tal como é compreendida por alguns autores não psicanalistas. Tal compreensão se ancora no fato de que o AT nasceu como uma prática de extrema importância nos contextos de desinstitucionalização e desospitalização, uma prática caracterizada pelo acompanhamento do paciente nos espaços sociais extra-muros institucionais.

Esta característica, entende Metzger, deve ser mantida, o AT deve permanecer como aquele “de fora”. Ser de fora, entretanto, não significa estar fora da instituição, mas manter uma escuta singularizada, não institucionalizada. O AT se constrói a partir da ética analítica, da transferência e da escuta de um desejo singular, a partir do qual se edificará um projeto terapêutico. Neste projeto, pode estar incluída a saída, o fazer e o percorrer itinerante, mas pode ser também que o projeto não contemple tais atividades, pois as errâncias que marcam o AT são de outra ordem; são aquelas ligadas ao reposicionamento subjetivo do acompanhado.

O livro possui, ainda, outro mérito: o de introduzir a discussão da prática do AT nos casos de pacientes de estrutura neurótica. A hipótese é a seguinte: a clínica do AT na neurose pode funcionar como as entrevistas preliminares em uma análise. Neste tempo inicial de estabelecimento diagnóstico e transferencial, pode ocorrer a transformação da demanda de amor em demanda de análise. Operação que se faz a partir do momento em que o sujeito passa a interrogar-se sobre o sintoma e implicar-se em sua queixa. Ou seja, as intervenções iriam na direção da estruturação de uma questão analítica por parte do sujeito, este seria o momento de conclusão e consequente dissolução do dispositivo do AT, dando lugar a um processo analítico no dispositivo de consultório.

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