Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 12 | Page 69

alteração na denominação de “amigo qualificado” para “acompanhante terapêutico” na década de 1980, indicando que se operou uma virada ética, em que a prática do AT foi incluída de modo indissociável no tratamento do sujeito.

Aponta, assim, para importância histórica do “terapêutico” em relação ao “acompanhante”, que outrora “amigo”, não era tomado como protagonista no tratamento. Tais considerações contribuem para uma necessária relativização da crítica acerca da pertinência do uso do termo “terapêutico”, quando sabemos que se objetiva efeitos analíticos e giros discursivos num AT que seja psicanaliticamente orientado.

Nesta retomada histórica, há também uma importante referência (talvez a primeira em livro) ao Coletivo de AT’s – iniciativa extra-institucional, organizada em 2013, que agregou diversos AT’s da cidade, de variadas orientações teóricas e campos de atuação, com o objetivo de debater problemáticas ligadas ao referido campo. O Coletivo de AT’s produziu um mapeamento da prática na grande São Paulo, que indicou a extensão dos lócus de atuação.

Esta extensão é contemplada no livro. No capítulo quatro, por exemplo, é tratado o tema da Clínica do acompanhamento terapêutico na escola. O título já deixa clara a posição de Metzger: o AT na escola faz clínica, ao menos aquele que é psicanaliticamente orientado. Tal posição não deve conduzir ao pensamento de que é vedado o auxílio na realização das tarefas, mas a compreensão de que auxiliar pontualmente em alguma tarefa é a escolha por uma intervenção que está inteiramente submetida à direção do tratamento.

A resposta imediata à demanda de aprendizagem caracteriza antes o acompanhante pedagógico do que o acompanhante terapêutico. A psicanálise, em sua teorização sobre a demanda do paciente, preocupou-se, desde Freud – em seus textos sobre o amor transferencial –, com o lugar em que o analista é colocado na transferência. Com Lacan – e sua definição de sujeito suposto saber – houve uma verticalização teórica para a compreensão do que se passa entre analista e analisando.

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