Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 12 | Page 50

Ronaldo Coelho – Como você entende essa relação de violência, essa dimensão social na relação com o suicídio?

Thiago Bloss - O pressuposto, que é o tema que tenho trabalhado ultimamente, é pensar que tipo de sofrimento é esse de um indivíduo excessivamente socializado? Se a gente for pegar a visão liberal de indivíduo, o que nos constitui enquanto indivíduos no sentido liberal, é o fato de sermos autônomos, livres e assim por diante. Se a gente for pegar essa concepção atual ela está falida. Não somos autônomos e, definitivamente, não somos livres. Então a gente vai partir do pressuposto que o indivíduo, com um excesso de adaptação à realidade social, por ser excessivamente socializado não pode se realizar enquanto tal. A minha questão é: como é que eu consigo então pensar a questão desse tipo de sofrimento, que resulta de relações atravessadas pela dominação, pela violência, e que não permite a individuação, não permite ao indivíduo se realizar enquanto tal? O conceito que tenho e que trago das contribuições da professora Bader Sawaia, da PUC, e do professor José Moura Gonçalves Filho, do Instituto de Psicologia da USP, é pensar a dimensão de um sofrimento que se manifesta de maneira singular, de maneira particular no indivíduo, mas que carrega uma dimensão universal, carrega uma história anterior a ele. É um sofrimento ao mesmo tempo individual e universal, ao mesmo tempo singular e histórico, político. É o conceito de sofrimento ético-político, ou seja, que o indivíduo não sofre simplesmente por uma questão interpessoal, ou por uma desregulação do seu circuito serotoninérgico, no cérebro, por uma deficiência de algum metabólico que leva à produção de serotonina.

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PATHOS / V. 12, n.02, 2020 49