Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 12 | Page 6

Editorial

A violência, seja ela qual for, é um dos principais fenômenos sociais provedores de questionamentos no mundo humano. O interessante de se observar é que tal prática de violência, ativa e presente em toda e qualquer sociedade e cultura, parece representar, dentro de suas distintas características, modelos repetitivos e sintomáticos. O diálogo estabelecido entre manifestações subjetivas e o desenvolvimento social, faz emergir conflitos vitais e relevantes, levando a manifestações, por vezes, reconhecidas e nomeadas como violência.

Segundo Engels (1981) “a história é, talvez, a mais cruel das deusas que arrasta sua carruagem triunfal sobre montões de cadáveres, tanto durante as guerras como em período de desenvolvimento pacífico” (p. 187). Desse modo, podemos supor que a violência não assume somente uma forma única e específica de manifestação, pelo contrário, está presente nas mais diversas formas humanas e sociais, diretas e indiretas, singulares e coletivas, conscientes e inconscientes, públicas e privadas.

Foucault (2015), aponta a violência como uma via possível de manifestação do sujeito, da sociedade e do Estado, uma espécie de possibilidade de ação dentro da relação de poder e liberdade. Caso esta ação conjunta não se apresente como possibilidade, estará configurado um campo ditatorial de dominação. Tal campo, por sua vez, teria o movimento de estimular e promover o uso da violência, e com isso, justificar suas ações coercitivas e dominantes.

De acordo com Foucault (2001), o poder e a liberdade necessitam caminhar juntos e coexistir. Quando não há tal encontro, não há poder estabelecido, e sim, pura opressão e coerção. Dessa forma, não se poderia pensar, a partir de Foucault, que em toda parte onde o poder emerge, a liberdade desaparece, isto é, a liberdade surge como condição da existência de um poder. Devemos observar que apenas pode-se ter relações de poder quando os sujeitos forem livres. Se um dos dois estiver completamente à disposição do outro e se tornar coisificado, o qual pode-se exercer uma violência infinita, não haverá relação de poder. Nas relações de poder há, necessariamente, possibilidade de resistência, pois se não houvesse tais possibilidades de subterfúgios e estratégias que invertam a situação, não haveria, de modo algum, relações de poder realmente estabelecidas.

PATHOS / V. 12, n.02, 2020 05

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