Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 12 | Page 48

Ronaldo Coelho – Thiago é psicólogo social, professor de psicologia da Uninove, membro da ABRAPS (Associação Brasileira de Psicologia Social) e do Instituto Vita Alere, que trabalha com prevenção e posvenção do suicídio. Thiago, gostaria que falasse um pouco sobre a dimensão social e cultural do suicídio.

Thiago Bloss - Acho que a primeira questão a pontuar é o meu recorte dentro da psicologia social, especificamente da psicologia social crítica. O primeiro passo para pensar a subjetividade tendo a psicologia social crítica como referência, é compreender que não dá para pensar a formação subjetiva destacando o indivíduo da realidade social e cultural onde ele está inserido. Isso é importante porque rompe com certo olhar hegemônico que a suicidologia traz e que é muito atravessado por uma visão medicalizada e reduzida à uma esfera intrapsíquica ou esfera biológica do indivíduo, e que infelizmente acaba muitas vezes reduzindo toda a complexidade do fenômeno do suicídio.

Ronaldo Coelho - Como podemos pensar essa dimensão social?

Thiago Bloss – É preciso trazer a visão crítica suicidologia hegemônica que é atravessada pelo olhar medicalizado que basicamente vai enxergar o suicídio como uma simples somatória de fatores.

Ronaldo Coelho - Quando você fala medicalizado, medicalizante, é de tornar doença?

Thiago Bloss - A medicalização da vida é basicamente reduzir a questão humana, fenômenos humanos, fenômenos sociais à um problema médico. Consequentemente, se você reduz questões humanas, complexidade humana à uma questão médica, você encontra a solução para isso também no discurso médico. Uma coisa, por exemplo, que a gente vê muito no discurso da suicidologia hegemônica em geral, é pensar o suicídio como multifatorial. Eu não vejo equívoco em falar que é um fenômeno multideterminado.

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PATHOS / V. 12, n.02, 2020 47