Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 96

A Psicologia Moderna é auxiliar no projeto destruidor de mundos e singularidades. Nesse sentido, Alexandre Marques Cabral (2018), ao refletir sobre a prática psicológica hoje, questiona para que serve uma Psicologia produtora continuamente sujeição existencial, principalmente sujeição as identidades metafisicamente concebidas.

 

Afinal, para o que é chamado o psicólogo hoje? Ainda para ajustar condutas aos moldes de sucesso e segurança, unanimidade e consenso que predominam como verdades e normalidade no contemporâneo? Para acalmar crianças, pacientes hospitalizados, funcionários insatisfeitos com o trabalho etc.? Para ensinar como ser extrovertido, forte, bem-sucedido, um vencedor? Para dizer quem se é, como adivinho que apenas olha e já sabe tudo sobre o outro, muito mais do que o próprio? Como aquele aconselha e dá a direção, que diz como viver? Aponta caminhos e fornece fórmulas de felicidade? Que corrige as falhas a fim de que o indivíduo funcione 100%? Une casais ou os separa, dependendo do que define como sendo o melhor para ambos? Decide, como um juiz psi, com quem os filhos devem ficar porque essa é a sua opinião como especialista que sabe mais da situação do que os próprios protagonistas? Sana dúvidas, afasta mal-estares, aponta soluções, pautado no saber sobre o outro e comunicar-lhe esse saber? (Mattar, 2016, p. 307-308)

 

            Seguindo na esteira de tais apontamentos, pensemos a partir de Foucault (1977), onde o fascismo não se limita as expressões de Hitler ou Mussolini. Ele é nosso inimigo maior, “o fascismo que está em nós todos, que martela nossos espíritos e nossas condutas cotidianas, o fascismo que nos faz amar o poder, desejar esta coisa que nos domina e nos explora” (Foucault, 1977, parágrafo 9).

 

MÉTODO

Fatos, Ficções e Afetos

 

É claustrofóbico e inquietante colocar a Psicologia num lugar – que é seu por mérito – tão produtor de violência. Há escapatória? Neste artigo temos como objetivo discutir sobre a participação da Psicologia no projeto de modernidade. Para tanto, a ciência psicológica foi situada como instrumento de produção de corpos e subjetividades.

Σ

PATHOS / V. 07 n.01, 2021 95