Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 94

INTRODUÇÃO

A Psicologia e o projeto fascista moderno

           

 Neste escrito a ciência psicológica será considerada como uma tecnologia do

projeto da modernidade. Tomamos as considerações do sociólogo Nikolas Rose (2011) de que a Psicologia não é um mero sistema de significados, um discurso, mas sim:

... um conjunto de artes e habilidades acarretando a conexão de pensamentos, afetos, forças, artefatos e técnicas, que não simplesmente manufaturam e manipulam, mas que, mais fundamentalmente, organizam o ser, estabelecem seus limites, produzem-no, tornam-no pensável como um modo de existência que deve ser tratado de uma forma particular (Rose, 2011, p. 82).

 

Nosso interesse não é o de limitar as possibilidades interpretativas da Psicologia, mas sim, ressaltar seu papel notável dentro do projeto da modernidade. Considerando que a partir do século XVIII temos o Estado como matriz moderna individualizante, não mais interessada na salvação pós vida e sim, assegurá-la neste mundo. Para tanto, diferentes instituições de governo dos corpos são articuladas, por exemplo, o hospital, a polícia, a família, a escola, a prisão, a economia, tendo como objetivo o desenvolvendo de um saber-poder sobre o humano que fosse global e quantitativo, concernente a população e, ao mesmo tempo, analítico, referente ao indivíduo (Foucault, 1995).

            De acordo com Luís Claudio Figueiredo (2007), em sua investigação sobre o nascimento do psicológico, a ciência psicológica esteve intimamente comprometida com a realização do projeto da modernidade ao tornar-se a disciplina responsável pela soberania do sujeito. Esmiuçando tal compromisso, Nikolas Rose (2011) ao produzir sua história crítica da Psicologia, expõe que para ascender ao status de ciência, a Psicologia precisou voltar-se à verdade. Não qualquer verdade, mas aquela objetiva advinda da estatística e do experimento nos moldes das ciências naturais. Tal busca por credibilidade concretizou-se pelo efeito da invenção do “sujeito psicológico”, ou seja, aquele cuja interioridade está enquadrada em dados estáveis, calculáveis e passiveis de repetição.

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PATHOS / V. 07 n.01, 2021 93