Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 9

Ainda hoje, Ser LGBTQIA+ seria um ato de resistência. Mas contra o que resistimos? Resistimos a qualquer tipo de restrição preconceituosa que viole o direito de ser como somos, humanos: Simples assim!... Contudo, a vivência da simplicidade ainda não é algo permitido para boa parte do púbico pertencente ao universo LBGTQIA+. A simplicidade a qual me refiro estaria pautada na beleza de existir sem precisar pensar sobre essa existência. O gesto espontâneo, despreocupado e livre, sem amarras ou inquietações, ainda seria algo tristemente distante na realidade de parte da população LGBTQIA+. Uma existência que permitiria ser simplesmente sendo e acontecendo, ainda estaria longe de ocorrer. Tal fenômeno violento e cruel que arrancaria a vivência da simplicidade e tranquilidade da existência do público LGBTQIA+, levaria a marcas psíquicas e sociais regadas de estigma, preconceito, medo, desconhecimento, aculturação, desenraizamento, incredulidade em si mesmo e sentimentos de culpa de ser quem se é. Essa realidade por vezes barulhenta representada por chutes e pontapés ou mesmo silenciosas como o olhar que condena, ignora e segrega, marcariam profundamente tal vivência.

Talvez por isso, pela impossibilidade da vivência do dito simples, da tranquilidade de ser quem se é, sem ter o medo de ser agredido, violado ou até mesmo morto, demonstra o quanto a história dos LGBTQIA+ é marcada por complexidades, diversidades, lutas, conquistas, mortes e sangue. O primeiro a ser morto seria da ordem do ético. A não existência da vivência ética implicaria no apagamento e na coisificação do sujeito em todas as suas possibilidades de expressão e representatividade. A sexualidade, a orientação sexual, as questões de gênero, são marcas que apresentam o sujeito no mundo, uma das formas de dizer quem se é. Com isso, qualquer interferência em tal liberdade de expressão e existência impactaria no roubo e no extermínio de tal possibilidade.  No momento em que necessitamos parar para nos preocupar com a nossa possiblidade ou não existência no mundo, aqui já residiria um grande problema social e cultural.

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PATHOS / V. 07, n.01, 2021 08