Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 62

Com foco na decisão familiar de aceitação ou rejeição da pessoa trans, Lev (2004), apresenta um modelo mais flexível a respeito das diferentes experiências e com tom menos patologizante, com a fluidez dos estágios nomeados descobrimento, tumulto, negociação e equilíbrio. Um novo modelo é proposto por Coolhart (2012), ao enfatizar a importância de validação dos processos emocionais de pais de pessoas trans ao mesmo tempo que se deve oferecer suporte de afirmação de gênero para a pessoa trans.

O trabalho de Norwood (2013a; 2013b), evidencia que alguns familiares de pessoas trans significam processos da transição de gênero como perdas, podendo ou não manifestar luto e identifica, ainda, que estas vivências se referem a um tipo específico de perda, conhecidas como perdas ambíguas.

As experiências de perda e luto que derivam de um objeto perdido incerto, ambíguo ou confuso, conferem um processo doloroso de um jeito específico e são estudadas pela perspectiva da teoria da perda ambígua, proposta por Pauline Boss (Boss, 1999;1991; Boss e Yeats, 2014), que sugere dois tipos de perda ambígua: um “partir sem adeus”, que se refere à ausência física de alguém que permanece presente psicologicamente e um “adeus sem partir”, que se refere à ausência psicológica de alguém que permanece presente fisicamente.

Ao pensar os pais de pessoas trans que vivenciam uma experiência de perda ambígua diante da transgeneridade, Jeni Whalig (2015) apresenta um novo dado, sugerindo a vivência de uma perda ambígua dual, isto é, a experiência é mais específica e complexa, combinando os dois tipos de perda ambígua: o primeiro tipo se manifesta com a percepção de uma ausência psicológica e presença física, quando o familiar tem a sensação de que a pessoa que conhecia desapareceu com a transição, apesar de continuar presente fisicamente.

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PATHOS / V. 07, n.01, 2021 61