Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 57

A pesquisa foi orientada pelo Interacionismo Simbólico e pela Teoria Fundamentada nos Dados como referenciais teórico e metodológico, respectivamente. Os dados foram coletados por meio de observação e entrevistas individuais com pessoas trans e familiares de pessoas trans, no período de junho de 2018 a janeiro de 2019. A amostra final do estudo foi composta por 20 participantes, sendo 11 pessoas trans e 9 familiares.

Os resultados destacam a transição de gênero enquanto processo sistêmico, possibilitando que o profissional reconheça nuances socioculturais que exercem influência nas vivências familiares da pessoa não-cisgênero e, consequentemente, na saúde destas pessoas e seus familiares. Conhecer os aspectos familiares da transexualidade permite integrar, estrategicamente, a qualidade interacional deste grupo social ao espectro dos cuidados de saúde integral, reconhecendo o caráter protetivo do acolhimento familiar para a saúde da pessoa trans.

 

DISCUSSÃO

 

A naturalização da cisheteronorma produz e assevera a manutenção de uma violenta e insana estrutura sociocultural na qual regras são impostas aos corpos e às subjetividades antes mesmo do nascimento. Desde a gestação, o feto é mergulhado em expectativas relacionadas ao gênero, socialmente definido a partir de características corporais seguindo uma lógica binária2 e cisnormativa. Tais expectativas são embasadas por regras socioculturais, regras estas que compulsoriamente visam pessoas cisgêneras e heterossexuais. Aqueles que subvertem a norma são violentamente punidos, desde a ininteligibilidade, opressão e deslegitimação de suas identidades, corpos e subjetividades ao assassinato social e físico.

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PATHOS / V. 07, n.01, 2021 56