Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 50

INTRODUÇÃO

Gênero e a estrutura sociocultural cisheteronormativa

 

A questão do gênero é vasta e complexa. Perpassa discursos que não podem ser isentos de debate, tal é o caso das diversas vertentes dos feminismos. Sem a intenção de adentrar na seara da discussão feminista neste texto, convidamos o leitor a uma reflexão breve e incompleta sobre gênero, a partir de uma perspectiva interseccional transfeminista.

Na contramão de um discurso universalizante da categoria mulher, o feminismo interseccional denuncia a branquitude e o elitismo de feminismos que falham em representar vivências e opressões de forma mais complexa, para além da categorização mulher/homem, levando em conta o entrecruzamento de outros marcadores além do gênero.  O conceito de interseccionalidade, introduzido em 1989 pela feminista afroamericana Kimberlé Williams Crenshaw, viabiliza uma compreensão mais ampla e inclusiva de como as múltiplas estruturas de poder, como por exemplo, gênero, raça/etnia, classe social, orientação sexual, se entrelaçam e produzem diferentes experiências de opressão, exclusão e acessos desiguais.

A construção de uma teoria transfeminista complementa este raciocínio, na medida em que busca representar pessoas cuja identidade de gênero não coincide com a expectativa social de gênero designada ao nascimento, a partir do reconhecimento e inclusão da história das lutas das travestis e mulheres trans e suas especificidades nas pautas feministas. Para isso, de acordo com as autoras Jesus e Alves (2012), é necessário compreender criticamente as diferenças no tratamento social vivenciado pelas travestis e mulheres trans em relação às mulheres cis, como uma forma (cis)sexismo biologizante e excludente.

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PATHOS / V. 07 n.01, 2021 49