Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 39

Em nosso cotidiano contemporâneo, o tabu estaria presente da mesma forma que nas sociedades tribais enquanto uma tentativa de organização do meio social contra sua dissolução, e muito associado ao estigma, sobretudo na sua dimensão de uma espécie de “marca ideológica” sobre grupos que possam ameaçar a coesão dessa sociedade (Araújo e Andrade, 2012). Entre esses grupos podemos citar, por exemplo, as pessoas que têm a infecção por HIV ou Aids e, uma vez que a literatura aponta para uma amplitude desse estigma também sobre os usuários da PrEP, podemos compreender também o uso dessa forma de profilaxia como atravessada por essa representação social estigmatizada.

Goffman (1988) fala sobre as normas existentes em uma sociedade e as expectativas sobre os indivíduos de seguirem essas normas, assim quando as pessoas não fogem dessa expectativas, são considerados dentro das “normas”. Já a manipulação do estigma é uma característica geral das sociedades, um processo que ocorre sempre que há regras de identidade que são como papéis sociais por vezes rígidos a seguir.

Tais normas de existência podem ter diversas origens, como por exemplo, interesses econômicos, políticos, estruturais ou mesmo uma origem no inconsciente, na forma dos desejos não permitidos, representados como tabus e proibições no mundo exterior. Dentro dessa última lógica inconsciente, a liberdade trazida pela PrEP, principalmente aos homens gays acerca de sua vivência sexual, sem correrem o risco de serem punidos pela Aids, promoveria em parte da sociedade um incômodo, uma vez que tal liberdade vivenciada de forma mais tranquila e autorizada por uma população não heterossexual, poderia refletir, em parte da civilização, incômodos mediante aos seus próprios conteúdos reprimidos.

PATHOS / V. 07, n.01, 2021 38

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