Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 38

Pela ótica da psicanálise, podemos relacionar com as ideias apresentadas por Freud em Totem e Tabu (1913), ao afirmar que o tabu é uma proibição forçada por certas autoridades e se mostra dirigida contra os mais poderosos anseios a que os seres humanos podem estar sujeitos, onde o desejo de quebrar essa proibição acaba por se acomodar no inconsciente. Essa característica é essencial para entender o funcionamento atual de nossa sociedade. Entender o porquê e como certos temas são considerados proibidos ou “intocáveis” pela sociedade nos dá a base para compreender por que o contato com os mesmos temas gera consequências para os indivíduos que cruzaram a barreira social, cuja função era justamente a de exilar esses conteúdos do meio social.

Freud (1913) também afirma, sobre o mecanismo de projeção, que a percepção interna é “jogada” para fora e percebida como externa e não interna, que tem como consequência um papel muito grande na formação de como o indivíduo vê, interage e percebe o mundo exterior. Podemos então perceber que a projeção, conforme os modelos de Freud, é um processo que ocorre regularmente na psique humana e tem consequências na forma como vemos e lidamos com o mundo exterior, entendendo como externo e alheio os outros indivíduos e a própria sociedade.

Segundo Araújo e Andrade (2012), o conceito de tabu a partir de “Totem e Tabu” de Freud (1913) tem semelhanças com as noções de estigma. Em linhas gerais, os autores apresentam a definição de tabu como algo com significado multifacetado, contendo um lado “sagrado” e outro “misterioso” ou “proibido”, contudo, independente de qual lado esse tabu está, ele não deve ser tocado ou abordado, pois denota algo cuja distância deve-se ter em permanência daqueles que não o compartilham.

PATHOS / V. 07, n.01, 2021 37

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