Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 23

Ao optar por utilizarem-se desta técnica como forma de prevenção, os indivíduos estão adotando uma prática que é produto da ciência e tecnologia como forma de gerenciar suas próprias exposições a um risco. Avaliando os conteúdos de usuários da PrEP, o autor identifica tanto a percepção de ganhos pessoais quanto da manifestação de “conflitos de diversas ordens” (Silva-Brandão, 2018,  p. 51). O autor identifica como os principais conflitos emergentes, certa ansiedade dos usuários, como por exemplo, o de não saber o status sorológico do parceiro em relação ao HIV, e esse conflito se dá apesar do “discurso da certeza”, ou seja, as evidências científicas que validam o tratamento e que supostamente deveriam tranquilizar o indivíduo sobre esse aspecto, tendo em vista o papel da medicalização na vida social. O autor compreende os indivíduos que fazem uso da PrEP não apenas como receptores desse discurso médico, mas também como sujeitos que se interrogam e vivem dilemas relacionados ao próprio HIV. Será que atualmente, alguns anos depois as representações sociais dos usuários da PrEP ainda se mantém dessa mesma forma?

Tendo em vista, a partir desta breve introdução, a presença do tema do estigma presente em diversas produções científicas sobre a PrEP, Goffman (1988) ao abordar este conceito, faz uma diferenciação entre tipos de estigma: há os estigmas associados ao corpo (como deficiências físicas), estigmas associados à raça, nação e religião, e os estigmas de “culpa de caráter individual” (p.7), como por exemplo o estigma que recai sobre alcoólicos, homossexuais, indivíduos suicidas, entre outros. Segundo o mesmo autor, são estabelecidos por uma sociedade certos padrões e categorias de atributos considerados normais ou naturais para aquele grupo, logo, estas categorias tornam-se “expectativas normativas” (p.5) de forma que o outro que evidencia certos atributos que o tornam diferente do esperado é muitas vezes visto como alguém diminuído, errado, inadequado, culpado perante os demais.

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PATHOS / V. 07, n.01, 2021 22