Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 144

A pandemia me impedia de realizar fisicamente meus desejos físicos. Eu entrei no aplicativo com a intenção de realizar o desejo idealizado do que o desejo concreto. Entrei com uma foto apenas de rosto com uma máscara do Batman e com o codinome de “Batman Santa Cecilia”, o bairro que moro. Eu não havia planejado nada, só queria uma personagem, uma máscara que me permitisse adentrar tudo aqui por o máximo de anonimato possível.

Queria viver o universo do “estranho” dos trabalhos do André que mexia com meus desejos. A fantasia de ser algo que eu não era. De despertar o desejo em outrem talvez por uma personagem como André fazia. A personagem de Batman veio como um impulso que mais tarde na análise descobri que havia sido uma mensagem do inconsciente com uma ligação da justiça, ou seja, de alguma forma eu buscava a justiça do desamor no bairro no bairro que costumo chamar, e percebi no aplicativo, de “bairro dos abandonados”: aquele bairro que concentra o maior número de corações partidos da cidade de São Paulo. O bairro das festas do momento, um “Mrs. Dalloway, Mrs. Daloway, sempre dando festas para encobrir o silêncio” de Virginia Woolf.

 

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PATHOS / V. 12, n.02, 2020 49

FOTO: Andre Medeiros Martins