Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 143

De um lado acompanhava, há algum tempo, o trabalho do artista André Medeiros Martins, que ao meu entender trabalha com a ideia peculiar da liberdade dos corpos em que o outro não é um produto de consumo. Que erro ou vulgar não é o sexo explícito ou pornografia, mas vulgar e erro é quando o sistema em que a sociedade capitalista faz com que indivíduos se usem como consumidores-produtos. Entender essa lógica do consumo do afeto humano como produto é fundamental para entender o verdadeiro vulgar. O melhor espaço para entender essa lógica era o aplicativo de “pegação”. Não há espaço melhor em que a liberdade é confundida com consumo como nesses aplicativos: o outro é apenas um pedaço de carne para o consumo. Foi assim que me joguei no mundo do estranho ou teorizando: no queer. Dessa forma, só o caminho da autoetnográfica pode me ajudar a entender o meu mergulho no queer (Ellis, 2010). Foi aí que nasceu a personagem “Batman da Santa Cecília”.

 

DANIEL: O que me chama atenção no seu livro “Vulgar” é a ressignificação que você traz sobre a palavra vulgar. E não é uma ressignificação na tentativa de higienizar a palavra vulgar para que ela seja palatável, mas em uma perspectiva queer, como nos traz Helena Vieira, em que se estamos em uma perspectiva queer somos fracassados. Porém, esse fracasso não nos é pejorativo, mas um orgulho: ser fracassado, na perspectiva da realidade neoliberal, é não obedecer a essa lógica, é ir contra a lógica neoliberal imposta. O que você tem a falar sobre?

 

ANDRÉ: Sou bem obsessivo com a quantidade de pessoas que me atravessam. Gosto muito do encontro com as pessoas. Já retratei 800 pessoas. Fui acompanhando como as pessoas se comportam nesses espaços, os espaços do pornô, da nudes, como a gente vai construindo essa autoimagem e como dentro disso, a gente vai eliminando coisas. E é justamente isso que me interessa: o que foi eliminado e porque foi eliminado. 

PATHOS / V. 07, n.01, 2021 142

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