Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 133

Não há maneira de explicar sobre as práticas clínicas dentro da Rainbow Psicologia, sem falar um pouco sobre a relação de amor e ódio que tenho com a iniciativa. Amor por acolhimento, escuta ética, lugar para falar e ser ouvido sem medo e sem julgamentos, onde a pessoa a ser atendida possa realmente se sentir em casa, independe da sexualidade, identidade ou expressão de gênero; Ódio por essa iniciativa existir, ódio pela necessidade de criar uma espécie de nicho de mercado para “vender” as características que citei acima. Sempre me questiono sobre o porquê de ter que garantir algo do tipo dentro de uma comunidade de profissionais de psicologia que, por via de regra, deveríamos encontrar em qualquer profissional da área ou da saúde em geral. Não me acostumo com a ideia de ter que garantir como um diferencial, algo tão óbvio, essencial e implícito na ética psicológica. Meu maior sonho é que um dia não precisem existir organizações ou iniciativas nesses moldes que atuamos hoje.

Algumas pessoas têm a fantasia de que é necessário fazer parte da mesma comunidade para atender uma pessoa LGBTQIA+, isso acontece principalmente pelo fato de que grande parte das pessoas que procuram a Rainbow já passaram por profissionais antiéticos que, da forma mais sutil e estrutural à mais explícita e, julgaram suas questões ou colocaram sua moral pessoal como forma de abordagem da subjetividade da pessoa, principalmente envolvendo religião, valores morais e heteronormativos. Mesmo sendo proibido utilizar qualquer tipo de crença esotérica ou religiosa com as práticas da ciência e profissão da psicologia, ainda encontramos pessoas que transgridem as leis do Código de Ética e atuam dessa maneira. Sendo assim, a maior dificuldade das pessoas era, até então, encontrar um lugar onde houvesse a garantia de que essas regras fossem seguidas, sem exceções.

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PATHOS / V. 07, n.01, 2021 132