Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 125

Quais as razões de um profissional de saúde não acolher adequadamente um paciente LGBTQIAP+? Obviamente trata-se também de um ser humano, que carrega consigo todo um histórico de convivência em uma sociedade LGBTfóbica, machista e opressora de minorias, o que acaba se refletindo nas suas convicções e na maneira de reagir a uma realidade que muitas vezes não lhes pertence. Entretanto, a imparcialidade e a empatia deveriam ser atitudes preponderantes no comportamento desses profissionais durante o atendimento. De qualquer forma, a falta de capacitação desses profissionais durante a sua formação - desde a graduação até os programas de residência e especialização - contribuem para o desconhecimento e amplificam tais atitudes que afetam a relação com esses pacientes.

            E será que se justifica falar em "Saúde LGBTQIAP+?" Não são todos humanos, e consequentemente, deveriam ser tratados igualitariamente como tais? É importante que se leve em consideração a realidade em que a maioria desses indivíduos está inserida e quais seriam os comportamentos que poderiam contribuir no processo de saúde e doença. Por isso, deve-se também lembrar do conceito de equidade, ou seja, tratar desigualmente os desiguais, considerando-se todas as peculiaridades que esse indivíduo possui, a forma como se relaciona e vive em sociedade. Não que a Saúde LGBTQIAP+ seja uma especialidade à parte, assim como ocorre na pediatria, na geriatria e na hebiatria para crianças, idosos e adolescentes respectivamente. Mas, sim, como um segmento de diversas especialidades, das mais diversas áreas de atuação em saúde. 

Na medicina, podemos citar especialidades médicas que lidam diretamente com essas peculiaridades, como a coloproctologia e a prática do sexo anal, a ginecologia e o atendimento de pessoas com vagina que se relacionam com outras pessoas com vagina, a urologia e o tratamento de disfunções sexuais nas relações homoafetivas, a endocrinologia que participa do processo de hormonização das pessoas trans e os infectologistas que lidam com métodos de prevenção combinada a infecções sexualmente transmissíveis e tratamento de pessoas vivendo com HIV - enquanto a prevalência de HIV na população geral é de 0,4% (Ministério da Saúde, Boletim Epidemiológico de HIV e AIDS, 2020), essa taxa é de 18% entre homens gays e bissexuais e podendo chegar até 30% entre mulheres trans e travestis (Kerr et aL, 2018).

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PATHOS / V. 07, n.01, 2021 124