Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 119

Silvetty – Sim, exato, precisa, para as pessoas saberem. Como a gente sabe que hoje em dia, na Parada aqui de São Paulo, tem muita gente que vai, vai para o Oba Oba, para o Carnaval, porque vai dançar, vai beber, vai transar, simplesmente vai. Agora se você pega um, ah, qual é o tema da Parada de hoje? Nem sei o que é isso, parte das pessoas não estão conectadas com isso, com o real propósito, entendeu? Lá fora, em algumas paradas as pessoas vão com cartazes, vão com faixas, você vê as alas de pessoas militando por uma causa sem serem necessariamente LGBT, tem apoio dos grupo dos guardas, das enfermeiras, dos demais profissionais, como um desfile em que todos da sociedade de diferentes setores lutam junto conosco, aqui é diferente, a polícia está lá somente para evitar “confusão” e não para nos apoiar. Aqui não tem isso, muita gente não reivindica nada, não estou menosprezando porque eu fiz parte disso tudo também, mas acho que precisava ter mais militância, sabe, que as pessoas soubessem o que está falando, qual é o tema da parada naquele ano. Não que não possa ser alegre, ter música e ser uma festa, tudo bem, mas as vezes fica a folia pela folia e acaba que, como algumas pessoas dizem, que é um carnaval fora de época e os direitos dos LGBT mesmo as vezes ficam de lado...

Ricardo – Já estamos chegando mais para o final da entrevista e eu gostaria que você falasse um pouco como é ser hoje um artista LGBT em tempos de pandemia?

 

Silvetty – Muito difícil, muito, é, nós temos muitos artistas na cena LGBT aqui em São Paulo, que com essa pandemia hoje estão passando muitas dificuldades e, a gente tenta, a gente corre para tentar ajudar, mas a gente não consegue abraçar todo mundo, então não sabe o que vai acontecer, como vai ser, já estava difícil antes da pandemia, agora com essa pandemia você está um ano e quase dois meses sem trabalhar, sem fazer nada, eu fico pensando naquelas que só viviam da arte, tipo, da arte da casa gay, da sauna, da boate, que não tinham outra profissão, não tinham aberto o leque. É muito difícil, a gente, eu falo que independente da sua crença, as pessoas têm que rezar muito, pedir muito, pra ver onde a gente vai parar. Só Deus, pois garantia de direitos, sejam eles humanos, econômicos, de assistência e apoio não se tem. Não sei, se vai ser um novo diferente, se vai ser tudo igual, se as pessoas aprenderam ou não... Não sei! Às vezes essa é uma pergunta que fica para mim mesma, eu me faço ela todos os dias, como vão ficar as coisas?

 

Ricardo – E quando você se faz essa pergunta, você encontra alguma resposta?

 

Silvetty – Não encontro uma resposta.

 

Ricardo – E para finalizar Silvetty, teria mais alguma coisa que você acha importante, algum recado que você gostaria de deixar?

 

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PATHOS / V. 07, n.01, 2021 118