Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 118

Que poderia ser divertido, engraçado e possível. Não era só violência. E tem outra coisa, a cena é uma cena que, você sabe, para o gay, ou você é bom ou você é bom, é um povo muito exigente, então eu fico muito feliz de poder fazer o que eu amo, ganhar daquilo que eu amo, ainda mais que hoje em dia nós estamos nessa pandemia, está muito difícil para a nossa classe, mas não vou perder a esperança. Eu não sei como vai voltar, se vai voltar melhor, pior, mas eu vivo da arte, eu amo a arte, é o que eu gosto e o que eu sei fazer. Eu sempre falo que eu sou meu próprio espelho, e quem me ajuda a construir esse espelho é o meu público, sou muito grata.

 

Ricardo – Pensando num dos movimentos de conquistas e garantia de direitos LGBTQIA+, temos sem sombra de dúvida o marco que á importância das Parada do Orgulho LGBT+ ao longo da história, desde as primeiras nos EUA no final da década de 60, início da década de 70 até os dias atuais, e que ocorrem por todo o mundo, em boa parte das cidades do mundo. Você que ficou à frente desse evento durante tanto tempo, o que você pensa da parada do orgulho e o que você poderia dizer sobre isso?

 

Silvetty – Uma análise assim muito rápida. Eu fiquei à frente da parada acho que dezesseis anos, foi maravilhoso, foi naquela época que a gente poderia ir a uma parada, se divertir, e claro, o mais importante, cobrar os nossos direitos, a gente descia da Paulista até a Consolação. Hoje em dia eu não faço mais parte, até vou, mas não sou mais apresentadora, respeito quem tá lá, tudo é um ciclo. Acho que o meu ciclo fechou e vêm coisas novas e a gente tem que dar continuidade, só que algumas pessoas falam que durante algum tempo nós fomos a maior parada do mundo, eu não sei se ainda continua. Entraram, hoje, muitas empresas, pessoas que põem dinheiro alí, que fazem a coisa acontecer, mas na questão de direito ainda falta muito, eu, esse ano passado, 2020, teve essa Parada Online, e eu não participei, não me chamaram. Eu recebi uma mensagem de um amigo que faz uma Parada em Los Angeles e em Nova Iorque, e ele disse: Silvetty, como a diferença é tão grande aqui, no primeiro carro, no primeiro trio que sai abrindo as paradas do Orgulho LGBT+ são daquelas pessoas que foram as fundadoras lá do Bar do Stone Wall em NYC, entendeu? Ele fala, que quem sobreviveu a essa época, que tá vivo, vai ali naquele primeiro carro, para mostrar para todos a importância da história, de quem abriu as portas e lutou por todos nós. Eu estou desde a primeira parada, e infelizmente aqui eles não dão tanto valor para isso, para a história, eu, que fui a primeira apresentadora, aquelas Drags que estiveram no começo, aquele primeiro presidente, aquelas pessoas que abriram tudo isso. Porque sempre tem alguém que começou tudo isso. Eles não valorizam, você entendeu?

 

Ricardo – Em um trecho do seu livro você diz que: “Que as novas gerações reflitam sobre, é importante saber que não somos minoria. Temos muito mais força do que imagina a bancada da bala ou a cristã que estão presentes nas instituições governamentais” você está falando de reconhecimento, de história, de respeito, até mesmo como perpetuação de força e garantia de direitos?

 

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PATHOS / V. 07, n.01, 2021 117