Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 104

Gabriela: “Acho que posso falar algumas coisas do quanto essa experiência foi transformadora para mim. Foi muito transformadora! Especialmente com relação à transexualidade. . . Bom, mas o que eu ia dizer é isso, como psicóloga de classe média eu não tinha tido acesso a conviver com pessoas trans, a não ser em atividades pontuais, oficinas que eu já tinha feito, alguma coisa assim, projeto de extensão, enfim. Mas conviver com uma pessoa trans foi transformador, sabe? De verdade, assim, a própria compreensão de que uma mulher trans é uma mulher, eu já tinha simpatia por isso, mas talvez eu não defendesse com tanta força como eu defendo hoje, sabe? Conviver, ter uma colega de trabalho trans foi transformador e eu já me dava conta disso no processo. E aí, a coisa de a gente viajar juntas, de às vezes precisar dividir quarto e tal, você acaba lidando inclusive com o corpo, você acaba convivendo com um corpo diferente. Nas viagens a gente conversava muito e aí ela falava da experiência dela de ser uma mulher trans e para mim foi muito especial” (sic).

 

 A profissional narra de um processo de insurgência de si como efeito ter se relacionado e sido afetada por uma mulher trans. Produzindo a si no acompanhar, inventando práticas, socializando e afetando-se no caminho. Deslocando-se em direção ao outro a cada violência enfrentada, revisando conceitos, repensando as práticas já conhecidas, reposicionando afetos e a si mesmos como efeitos dessa experiência (Carvalho, 2020).

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por uma Psicologia não-fascista 

 

Neste artigo discutimos a implicação da ciência psicológica no projeto da modernidade. Sua dedicação prática e científica da Psicologia, historicamente, atuou como dispositivo voltado a produção de corpos e subjetividades quantificáveis e repetíveis, reduzindo a complexidade humana a sua interioridade.

O mundo contemporâneo parece chegar ao fim diante de nossos olhos e a necropolítica atuante sobre corpos indigentes faz nossas percepções ainda mais estarrecedoras. Se faz urgente que repensemos nossa relação de Homo Sapiens com as demais formas de vida, incluindo os outros humanos.

Σ

PATHOS / V. 07 n.01, 2021 103