Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 114

Silvetty – Não, infância não, porque é que nem eu falei, eu fui meio tardio. Eu comecei a sair para a cena LGBT, cena gay, nessa época de dezessete para dezoito anos. Então informação quando eu era mais novo, quando eu era criança, não tinha, porque é como eu te falei, não tinha internet, mesmo na televisão era muito difícil você ver isso, a gente via naquele programa do Sílvio Santos. Antes do Sílvio Santos teve o Bolinha, que era o quadro de transformista. O do Bolinha era o “Eles e Elas”, o quadro de transformista era do Sílvio Santos, então a informação era muito pouca para a gente naquela época.

 

Ricardo – Podemos pensar que tais programas foram uma referência para você de alguma maneira? Seria correto afirmar isso?

 

Silvetty – Sim, com certeza, muito! Eu lembro que eu sempre soube que eu era gay, desde pequeno, só que essas oportunidades que a gente via na televisão, eram poucas, era aquela televisão de seletor que a gente assistia na sala, era uma televisão por família e olhe lá. Quando eu estava vendo esses programas, aí o pai chegava, aí você corria lá e as vezes tinha que trocar de canal, não tinha controle remoto, era seletor, você tinha que ir lá trocar de canal. Não havia essa possibilidade de ser natural, que é o correto, era algo do proibido as vezes. Sou grata por essa época, mesmo não tendo tanta informação, são muitas referências, e referência boas, que eu vi muita gente que eu nunca imaginei. Eu dou exemplo a Marcinha do Corinto. Eu a via muito, tipo “Divina Loma”, eu a vi nos programas de “Show de Calouros” do Sílvio Santos, falei: gente! Eu nunca imaginava fazer o que elas faziam, mas eu achava lindo aquilo, achava maravilhoso e, hoje em dia eu posso dizer que eu sou amigo da Marcinha, que eu sou amigo da Loma, eu faço parte delas e hoje. Tenho muito orgulho, quando paro e penso, que eu comecei com essas referencias dessas pessoas e desses programas de TV e estou aqui até hoje. São 34 anos trabalhados, infelizmente alguns não tiveram oportunidade e teve algumas que trabalharam dois anos, por exemplo e depois pararam, voltaram, pararam. Eu não, contínuo!

 

Ricardo – Isso é interessante, você traz Silvetty que você tinha uma admiração, tinha um encantamento, mas que você não se via ocupando um lugar parecido, que não se via naquele lugar, como foi isso?

 

Silvetty – Mesmo admirando e achando tudo aquilo lindo, nunca imaginei que estaria lá, porque na verdade eu comecei participando de concurso de “Miss Gay”. Concorrendo, eu fui Miss Primavera. Concorrendo e ganhando. Eu ganhei Miss Primavera, Miss Brasil, Miss Cidade, Rainha do Carnaval, Miss Universo. Então depois, eu comecei a comecei apresentando os concursos. Foram épocas muito boas, nem todo mundo sabe dessa história, de como eu comecei, em quem me inspirei sem mesmo saber, olha o quanto é importante ter essa representatividade né! É que nem eu falo, todo mundo tem a sua época, todo mundo vai viver o seu tempo.

 

PATHOS / V. 07, n.01, 2021 113

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