Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia Volume 07 | Page 112

Para Bauman (2001) a ferramenta de dominação atual seria a velocidade, o acesso às formas rápidas de movimento e fenômeno. Vivemos hoje um imperativo social que quase nos obriga a mudar constantemente, perdendo por vezes a capacidade de validar nossa trajetória, existência, justiça e reconhecimento de que nada se inicia no aqui e agora, de que tudo pressupõe uma história, um caminho. Silvetty, como tantos outros nomes relevantes, marcam essa história LGBTQIA+ na cidade de São Paulo e no Brasil, ao iniciarem esse caminho para nós. Hoje a efetivação e possibilidade simbólica do lançamento do presente volume temático é graças também a pessoas como Silvetty Motilla, que deram a cara, o corpo e a alma, nos permitindo na atualidade, ser e existir.  Assim, com muito orgulho, honra e satisfação, agradecemos a Silvetty por tal oferta de nos abrilhantar com um pouco de sua relevante história.

A entrevista foi realizada na casa do editor-chefe da Revista Pathos, como preferiu a própria Silvetty. O encontro foi regado com muita alegria, descontração, como também preocupações e inquietações com cenário atual, principalmente envolvendo o meio artístico, uma das áreas mais afetadas pela pandemia do COVID-19.

No dia 15 de abril de 2021, após um gostoso e agradável jantar, demos início a entrevista com a primeira pergunta:

 

Ricardo - Como foi para você Silvetty se reconhecer como uma pessoa LGBT+?

 

Silvetty – Então, eu acho que fui até bem tardinho. Porque hoje em dia você vê assim, digo, mais para o centro de São Paulo, nas grandes capitais, você vê aquela meninada de catorze - quinze anos e no meu tempo não, era bem mais difícil, não se tinha o que tem hoje, eu comecei a sair com dezoito, dezessete para dezoito anos. Eu, desde quando me conheço por gente, na minha adolescência, eu já sabia quem eu era, o que eu queria ser, minha orientação, mas eu comecei a sair muito tarde, frequentar, conhecer mesmo, entendeu?

 

Ricardo – Pensando na infância e na adolescência, quais foram os principais desafios que você enfrentou nessa época envolvendo as questões de gênero e orientação sexual?

 

Silvetty – Eu acho que eu sempre me reconheci no gênero feminino, mesmo sabendo que eu era um homem, tendo que ser um homem “cis”, entendeu? Hoje em dia que está tudo muito mais amplo, naquela época a gente não tinha muitas informações, o que tornava a situação muito mais difícil.

PATHOS / V. 07, n.01, 2021 111

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