Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 9º Volume | Page 61

A introdução dos temas pelo adolescente, durante os atendimentos, além de forma gradativa, ocorre com dinâmicas variadas:

- Algumas histórias são ricas de detalhes, outras são vagas lembrança;

- Os sentimentos são expressos com intensidade, outros com muita cautela e desconfiança;

- Os vínculos são estabelecidos com facilidade, outros com superficialidade;

- Medos expressos com franqueza, alguns não são identificados e outros são negados;

- As famílias são existentes, outras idealizadas ou ausentes;

- O futuro é o presente, muitas vezes inexistente, algumas vezes uma possibilidade e muitas vezes uma ilusão;

- Dores são expostas, ou adormecidas ou negadas;

- Expressões amáveis, outras ameaçadoras ou enigmáticas;

- Ações são planejadas, outras impulsivas ou instáveis;

- Crianças crescidas, crianças sofridas, crianças perdidas;

- Corpos amadurecidos, vivências precoces;

- O outro visto como objeto de amor, ou de ódio e/ou de instrumento para satisfazer suas necessidades imediatas.

- Desamparo, desilusões e fim das utopias.

É também no setting terapêutico que os sintomas psicológicos que foram criados numa tentativa de solucionar uma dor mental insuportável são reproduzidos. Adolescentes que utilizam os atos como único recurso, já que não podem/ou não sabem utilizar as palavras como veículo de seus pensamentos e sentimentos. São nas ações, na maioria das vezes violentas, que eles conseguem externalizar o excesso afetivo e a dor mental; são sobrecargas que ultrapassam a capacidade de assimilação das defesas cotidianas.

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PATHOS / V. 09, n.02, 2019 60