Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 9º Volume | Page 58

Foto Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Diante dessa exposição, questionamos qual o objetivo do trabalho, uma vez que o “alvo” da escuta clínica é o jovem que cometeu atos ilícitos e/ou infrações e que futuramente retornará a sociedade podendo continuar com as mesmas práticas ilegais? Como atuar nesta esfera institucional sem julgamentos, moralismos ou juízos de valor?

Nesse sentido, enfatizamos a importância de conhecer e compreender o contexto de origem do jovem e qual a história da instituição ao longo dos anos; esses aspectos permeiam a realidade dos adolescentes internos e, consequentemente, refletirá na sua “escuta”.

É num espaço criado com o adolescente que vai surgindo sujeitos com aptidões e competências, as quais anteriormente não conseguia identificar e se apropriar:

sujeitos cujas relações com o outro se confundem num constante caos de afetos contraditórios, sujeitos cujo passado, presente e futuro se apresentam como tempos difíceis de serem compreendidos e que lhes proporcione o gosto de “ser” (Zimmermann, 2007, p.8).

Um “ser” que após ter sido encaminhado para uma medida de privação de liberdade passa a ser identificado de acordo com o seu ato. Jovens tidos como violentos, frios, desumanos, drogados, traficantes, assassinos passam a ser olhados pelo que fizeram e não pelo que “são”.

Na adolescência, o indivíduo vai questionar os valores apreendidos no processo de identificação e socialização primária, adquiridos através das relações intra e extrafamiliar, iniciando um novo processo de desenvolvimento chamado de socialização secundária (Lane, 1981). É diante deste processo de metamorfose que a violência tem estado presente na vida destes adolescentes talvez como uma forma de enfrentar o desamparo provocado por perda das ilusões, do sentido de transcendência e fim das utopias infantis e sociais.

PATHOS / V. 09, n.02, 2019 57

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