Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 9º Volume | Page 42

PATHOS / V. 09, n.02, 2019 41

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Desde o século XVIII, as mudanças sociais têm sido intensas e marcadas pela rapidez de seus impactos. No advento da Revolução Industrial e da Revolução Sexual (Ceccarelli, 2015) tais como na primeira e segunda onda do feminismo, a ideia de família tem se tornado cada vez mais complexa, fluida e maleável.

Muitos estudos antropológicos mostram que a ideia de família não é um arranjo universal, mas um constructo social e historicamente construído no tecido social (Ceccarelli, 2015). No entanto, os modelos familiares dotados de pai e mãe ainda circulam por entre representações sociais na história das mentalidades no Ocidente como sendo o “modelo ideal”.

No campo das ciências, por exemplo, muito tem se indagado sobre a formação dos sujeitos que vivem sobre essas novas configurações (monoparentais, homoafetivas, adotivas, recompostas, extensa, adotivas, temporárias, etc). A ideia de que é no seio de um modelo ideal de família estruturada que se formam ‘bons vínculos’, ‘bons valores’ e, portanto, uma boa estrutura psíquica, ainda circula na sociedade mesmo que na prática já se tenha comprovado que não há nenhuma relação direta a esse respeito (Ceccarelli, 2007). A própria ideia do que é bom é, em si mesma, um julgamento de valor dotado de padrão das relações familiares.

Esse relato de experiência visa mostrar como e o que as crianças compreendem por família. O trabalho foi desenvolvido em uma escola pública do município de Guarulhos com educandos na faixa etária de 10 anos. Para chegar às diferentes representações de família foi elaborada uma sequência didática cuja fases serão descritas abaixo. As imagens apresentadas são o produto da sequência didática e mostram a ideia de família na concepção desse grupo de alunos.

As sequências didáticas são “situações didáticas articuladas, que possuem uma sequência de realização cujo principal critério é o nível de dificuldade – há uma progressão de desafios que devem ser enfrentados pelos alunos para que construam um determinado conhecimento” (Soligo, 2009, p. 3). Dessa forma, cada etapa do trabalho objetivou o processo reflexão-ação-reflexão e aprofundamento das questões norteadoras que orientaram o trabalho pedagógico.