Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 9º Volume | Page 38

Acreditamos que as aulas nas escolas indígenas devem ser ministradas na língua materna, pois muitos alunos relatam que não conseguem assimilar o conhecimento em duas línguas. A escola organizada em ciclos traz desvantagens para nós porque muitos alunos passam de ano sem adquirir o conhecimento necessário para seu crescimento individual. A escola organizada por ciclo tem dificultado bastante o nosso trabalho.

As leis precisam ser cumpridas, garantindo os direitos e deveres constitucionais e o resguardo às formas de ensino e aprendizagem tradicional, do sistema de formação humana A’uwe Uptabi7 e ao mesmo tempo garantir aos estudantes e profissionais da educação o acesso aos conhecimentos e bens tecnológicos do mundo atual.

Queremos ajudar a formar um aluno que respeite e vivencie as crenças e a identidade A’uwẽ Uptabi Xavante, participe da organização da comunidade, que busque os conhecimentos A’uwẽ, que produza histórias escritas na língua A’uwẽ Uptabi. Entendemos que para além do conhecimento tradicional, nossos alunos precisam aprender conteúdos não indígenas e das relações interculturais: línguas, comércio, financeiro, artes, história geral, todas as ciências, tecnologia e demais conhecimentos da cultura global.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Hoje contamos com cerca de 20 mil indígenas Xavante, distribuídos por mais de 300 aldeias localizadas no estado de Mato Grosso. Precisamos de um sistema educacional que valorize e preserve nossa cultura. O sistema de ensino que dispomos hoje está assentado em bases da cultura dos brancos, com valores distintos da visão de mundo de nosso povo.

Nosso maior desafio no campo da educação escolar indígena é conseguir um ensino de qualidade diferenciada, no sentido de atender as comunidades indígenas e o modo de vida Xavante. Entendemos que essa reivindicação está para além das salas de aula, tem a ver com espaços de voz, escuta e respeito às questões indígenas.

PATHOS / V. 09, n.02, 2019 37

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