Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 9º Volume | Page 23

Com base no artigo 232 da Constituição, a primeira providência das comunidades foi se organizar em associações para atuarem pelos direitos. Desse modo, o povo Baniwa criou sua primeira associação em 1988. Depois, a segunda organização formal foi criada em 1992, que é Organização Indígena da Bacia do Içana (OIBI), com a missão de desenvolver seus projetos autônomos junto às comunidades.

Como nem todas as comunidades ainda estavam a par dos seus direitos preconizados na nova Constituição foi necessário desenvolver um projeto que chamamos de “conscientização sobre seus direitos”, o qual tinha o objetivo de criar espaços de discussão sobre a importância de estarmos organizados em associação. Esse processo levou quatro anos com pequenas inciativas e articulações nas comunidades e com a Universidade Federal do Amazonas, governos municipal e estadual, além da própria articulação interna no movimento indígena no Rio Negro, Amazonas ou fora dela.

Desde a colonização, os povos indígenas têm sido forçados ao branqueamento que vai para além da cor e demais características físicas, ou seja, muitos indígenas tinham em seus discursos que não eram mais indígenas, que já eram civilizados ou educados como se isso significasse algo bom. Durantes nossos trabalhos sobre direitos nas comunidades percebemos que muitas coisas da cultura e da tradição indígena estavam apenas adormecidas ou desvalorizadas. Parte das comunidades Baniwa não falava mais a língua tradicional por influência da igreja. Havia muitos conflitos entre indígenas e as comunidades em razão de duas correntes missionárias das religiões Católica e evangélica. Além disso, nosso povo vivia processos de exploração econômica, em que indígenas eram submetidos a condições de trabalho análogas a de escravo na região da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Venezuela. Somado a esses fatores, o governo federal executava a demarcação de terras indígenas em forma de colônias, o que favorecia a invasão de garimpeiros não indígenas e de empresas mineradoras. As consequências aos povos indígenas eram dramáticas não somente na área social. Os indígenas sofriam com a baixa autoestima e a falta de perspectiva de vida.

PATHOS / V. 09 n.02, 2019 22

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