Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 9º Volume | Page 36

Comecei a lecionar nos anos 90 como professor leigo1. Até então, não tinha intenção de trabalhar em sequência pedagógica. Em 1995 fui contratado pela prefeitura de Barra do Garças/MT, o qual mantém escolas em sua rede municipal. Fui inserido em um projeto do governo estadual intitulado como Projeto Tucum, para formação de professores indígenas em nível de magistério. Nele tive a oportunidade de aprender o trabalho de desenvolvimento pedagógico.

Tomar conhecimento da sequência pedagógica contribuiu para minha prática, apresentando-se como um norte em meu trabalho. No entanto, essa sequência não estava de acordo com o ritmo de aprendizagem psicológica do aluno indígena. Para isso, eram necessárias ações nas esferas das políticas públicas a níveis nacional, estadual e municipal. Esses impasses foram discutidos na Organização dos Professores Indígena no Estado de Mato Grosso-OPRIMT, ocasião em que estava como vice-presidente. Nessas discussões tomei como base minha experiência na educação indígena enquanto professor, coordenador pedagógico das escolas indígenas da rede municipal e estadual, diretor da escola estadual, professor articulador, e assessor técnico pedagógico na Secretaria de Educação de Mato Grosso (SEDUC-MT).

Nossa reivindicação é por uma escola que considere a cultura Xavante e seus aspectos fundamentais como a espiritualidade que nos rege2, nossa concepção de sujeito e da noção de tempo cronológico e do desenvolvimento A’uwẽ3.

A escola é apenas um prédio onde se difunde os saberes, que são extensões dos saberes que se aprendem em casa. Chamamos também a atenção para o aspecto arquitetônico da escola. Ao contrário da disposição tradicional em fileiras, nossas necessitam de um formato circular, de modo a valorizar a oralidade de seus integrantes. O que é mais importante, a qualidade do ensino ou formato de salas quadradas dela? Estamos discutindo com a SEDUC sobre um modelo arquitetônico mais adequado. A escola faz parte do Warã4. A escola não pode ficar desarticulada da organização espacial da aldeia. Ela deve ficar em um local que não receba interferências sonoras externas, mas que não fiquem tão distante da comunidade para que ela também tenha acesso para participar das atividades.

PATHOS / V. 09, n.02, 2019 35

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