PATHOS / V. 08, n.01, 2019 38
Σ
Enfrentamento
Esperança
resistência
Amor
Felicidade
Acesso
Educação
Diversidade
Liberdade
A proposta do projeto Escola Sem Partido traz em si o contrassenso já em seu título. Um projeto que se quer conhecer como eliminador do partido e da ideologia, nasce de um partido e de uma ideologia específicos. Flávio Bolsonaro, deputado que pertence a um partido, propõe a um advogado (e não um educador, vale frisar) que elabore uma lei que visa eliminar o pensamento crítico das escolas, como estratégia de facilitar o avanço do pensamento conservador e dogmático, uma vez que esses não sobrevivem ao pensamento crítico.
O conhecimento científico se dá a partir de construções de sentidos. Cabe ao professor, através do exercício do pensamento, analisar como foram sendo construídos os sentidos ao longo do tempo. O professor não é um burocrata, como afirmam alguns legisladores, é um profissional que tem o pensamento como instrumento de trabalho. O Escola Sem Partido pretende reduzir este instrumento, construído de maneira sofisticada, através de livros, cultura e relações, a algo técnico, burocrático.
O educador Paulo Freire, em seu livro Pedagogia da Autonomia, defende que ensinar exige pesquisa, respeito aos saberes dos educandos, pensamento crítico, estética e ética, corporeificação da palavra pelo exemplo. Exige rejeição a qualquer forma de discriminação, reflexão crítica sobre a prática, reconhecimento e assunção da identidade cultural. Este mesmo educador, referência mundial, criticado de maneira infundada e descabida pelos defensores do Escola Sem Partido, afirma também que não há docência sem discência, que o aprendizado se dá a partir das relações do docente com o discente, sem se reduzirem à condição de objeto um do outro. Ainda como nos afirma Paulo Freire, ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção ou sua construção. Nas palavras do educador:
Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar e não a de transferir conhecimento. (Freire, p. 47)