Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 8º Volume | Page 10

Atravessamos rapidamente os corredores porque estávamos 15 minutos atrasadas para uma reunião, marcada para às 19h, na sala 14, de uma universidade. Nenhuma de nós fazia ideia de onde ficava a sala e pensamos em perguntar para algum estudante, mas tivemos que parar de repente porque já não era mais possível andar. A nossa frente, estava um mar. Não de água, mas de gente. Os organizadores da reunião haviam reservado inicialmente uma sala onde caberiam cerca de 60 pessoas. Ali estavam três mil! Três mil pessoas vieram para uma reunião cujo cartaz era uma foto de Marielle com o tema “Construindo a Resistência”. Isso aconteceu no dia 01/11 de 2018, uma quinta-feira, quatro dias após a eleição do novo presidente.

Porém, eu devo voltar ao início, dias antes dessa reunião. E, no início, o que apareceu foi o pior do humano, a barbárie vociferada em palavras como:

“Mulheres são produto de uma fraquejada no ato sexual”;

“Negros de quilombos não servem nem para procriar”;

“Prefiro ter um filho morto em um acidente do que um filho gay”;

“Meus filhos jamais vão namorar uma negra porque foram bem educados”;

“O problema da ditadura foi ter torturado e não matado”.

O que estava velado no nosso país, escancarou-se em um político e seus seguidores. O racismo nunca deixou o Brasil, nem o machismo ou a xenofobia, mas as máscaras estavam caindo e fomos obrigados a ver.

E, quando vimos o horror ao nosso lado, entre nossos familiares, amigos, nas redes sociais, na fila do pão, nos desesperamos. E, então, relações foram abaladas, famílias separadas, amizades rompidas. Sair na rua com tal camiseta passou a causar medo, defender tal ideia poderia te colocar em maus lençóis. Da aparente evolução que nossa sociedade parecia estar presenciando nos últimos tempos, com o empoderamento das mulheres, dos negros e LGBTQs, nos vimos retrocedendo para tempos sombrios.

PATHOS / V. 08, n.01, 2019 09

Σ

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