Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 7º Volume | Page 65

A criança também conta com habilidades motoras bem desenvolvidas, demostra sentir-se seguro enquanto brinca. Durante as observações, tivemos a chance de perceber o quanto a capacidade intelectual de Gabriel está em construção, além de presenciarmos o quanto a criança está bem situada em relação aos espaços, o reconhecimento de si e do outro.

É fundamental também recordamos as contribuições que a psicanálise nos oferece acerca do brincar como algo que contribui diretamente para a constituição psíquica, inclusive sobre o brincar compartilhado com outra pessoa como prazeroso e tem direta contribuição para o enlaçamento. Conforme vimos no presente trabalho, trata-se do enlaçamento especificamente entre mãe e filho.

Todos estes aspectos puderam ser encontrados em autores que se debruçam sobre a temática do brincar, como em Bomtempo (1996 e 1999), Moyles (2002), Winnicott (1971), Piaget (1964), Vygotysky (1984), Elkonin (1998), Oliveira (2004), Brougère (1995), Carvalho, et. al. (2003) e Huizinga (1971), que trazem contribuições sobre o brincar como o que proporciona diversos elementos à criança em termos da possibilidade de diferenciação entre fantasia e realidade, o reconhecimento das regras, dos limites e dos papeis assumidos e a representação de lugares e posições.

Em relação à psicanálise e ao que foi apreendido durante as observações de Gabriel, contribuem para apreendermos o quanto a relação com o outro é primordial para que a criança possa desenvolver suas habilidades e consiga constituir-se psiquicamente. Ao longo das observações, foi possível confirmar na prática diversos aspectos do desenvolvimento infantil, como criatividade, coordenação motora, inteligência, interação e autonomia. As observações de Gabriel confirmam a hipótese de que o brincar é extremamente importante para o desenvolvimento de uma criança, inclusive no que diz respeito à constituição subjetiva, como sustentada pelo enlaçamento com o outro. Durante o brincar, apareceram elementos como o reconhecimento dos papeis e sua possibilidade de manejo, por exemplo, quando a criança pôde fantasiar que era autoridade sobre sua mãe.

As noções de regra e limite também foram percebidas nas cenas apresentadas; Gabriel é capaz de segui-las durante o enquadre da brincadeira e tem plasticidade simbólica para perceber que a brincadeira acabou, partindo para o reconhecimento das regras fora do contexto lúdico. Por se tratar de uma criança bastante jovem, ainda está presente, mesmo que em pontuais ocasiões, alguma confusão diante dos limites impostos pelo adulto, ou ainda, tentativas de burlar os combinados, compreendidas como movimentos que vão ao encontro com o esperado para sua idade.

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PATHOS / V. 07, n.04, 2018 64