Sempre que sobe em sua motoca, Gabriel diz tchau e fala que vai passear, trabalhar, ir ao supermercado ou à escola. Ainda usa o objeto para simular um skate enquanto tenta ficar em pé na motoca. Pede insistentemente que sua mãe monte na motoca, ele diz: senta mamãe, agora! oferecendo-a seu capacete. Ela tenta recusar, propondo outra brincadeira, até que Gabriel a convence de aceitar a proposta. Assim que a mãe monta na motoca, a criança se pendura em suas costas para passear, dando voltas pela sala da casa. A rodada se encerra quando Gabriel pede para cair no chão, chacoalha a cabeça, como se estivesse desnorteado, e depois diz que está bem. Em outras rodadas onde a criança forja a queda, permanece deitada no chão e diz que se machucou, pedindo o beijinho de sua mãe para melhorar. Ao ser beijado, ele agradece e, quando sua mãe pergunta se ele melhorou, Gabriel responde que sim, melholei e continuam brincando.
Discussão
Foi possível notar, ao longo das observações, que a criança é capaz de fazer representação de papeis. Isso aparece quando inclui a figura de seu pai nas brincadeiras mesmo que esteja ausente fisicamente, ou ainda quando assume o lugar de sua mãe, seja impondo regras ou delimitando papeis durante o brincar. Gabriel está no laço com sua mãe, o que é percebido durante as demandas constantes que a criança faz, seja verbalizando algo, buscando por carinho ou simplesmente ao dirigir seu olhar à mãe.
Por meio do laço, a criança brincou e sempre se vinculou a ela. Consideramos o laço entre mãe e filho não somente no momento do brincar, mas como colaborador, inclusive, para o repertório escolhido por Gabriel que evocava cenas recentes ou antigas de sua rotina em suas brincadeiras - sempre ricas de enredo e com riqueza simbólica, plasticidade, autonomia e outras características que apontam para um brincar arrojado e ao enlaçamento com a figura do outro/Outro.
Σ
PATHOS / V. 07, n.04, 2018 63