Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 7º Volume | Page 59

PATHOS / V. 07, n.04, 2018 58

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Segundo Quinet (2012): “o Outro é, na verdade o espelho no qual a criança se vê e se admira, ajustando sua imagem enquanto eu ideal às relações de Outro que vem no lugar do Ideal do eu.” (p. 20). O Outro se torna a base da formação de representações que permitirão a constituição do Ideal do Eu e do próprio eu ideal.

Este processo implica um atravessamento do Outro para a constituição do eu do sujeito, considerando-se que o eu é primeiramente corporal. De acordo com Laznik (1991), “o estádio do espelho é um momento mítico inaugural, a partir do qual um corpo vivido como fragmentado é antecipadamente constituído num semblante de totalidade e maturação” (p. 23).

Quinet (2012) esclarece que existe dois momentos no estádio do espelho, sendo o primeiro aquele em que a imagem está despedaçada e, no segundo momento, trata-se de uma imagem unificada. Portanto, a passagem pelo estádio do espelho permite que o bebê comece a se perceber e, também, que perceba o outro - anteriormente fragmentado e confuso.

Acerca do estádio do espelho, há articulações que introduzem o olhar como ponto importante na relação entre sujeito, outro e Outro. Quinet (2012) destaca que “o olhar em cena no estádio do espelho é o olhar daquele que vem a ocupar o lugar do Outro, por exemplo, a mãe. Trata-se de um olhar buscado pela criança.” (p. 20). Desse modo, o sujeito busca o olhar do outro que, durante o estádio do espelho, ocupa o lugar do Outro para estabelecer uma relação de desejo com esse Outro e assim ser aceito e amado.

É indispensável considerar que a criança demanda para acessar o desejo do Outro que, em certo tempo da constituição subjetiva, passa a ser sinalizado como uma dinâmica relacional que aponta a um mais-além da relação mãe-bebê. No que tange à relação do sujeito com o Outro, Lacan (1968-1969/2008) insere a importância da demanda, tratando-se de algo que se constrói progressivamente. A criança não nasce pronta para demandar ao Outro, haja vista que a demanda surge em torno da emergência do desejo do Outro.

Sobre a questão do desejo do Outro, conforme a psicanálise lacaniana, Checchinato (1988) diz que quando há simbolização da ausência-presença da mãe, que poderá fixar seu desejo em seu filho, a criança então poderá ser uma criança desejada ou não, para além da ordem da satisfação. Dessa maneira, se a criança não estiver inscrita no desejo do Outro, ela não solicitará esse Outro por meio da demanda. De acordo com Lacan (1968-1969/2008), na tentativa do sujeito acessar o campo do Outro, estabelece-se a demanda: “Pela simples realidade da demanda ao Outro, surge o fato de que o Outro já contém, de certa maneira, tudo aquilo em torno do qual ela se articula.” (p. 57).