Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 7º Volume | Page 58

Foto Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Lacan (1968-1969/2008) expõe que o sujeito depende do lugar do Outro para constituir-se. Isso porque o Outro é tudo aquilo que já existia antes que uma criança nasça e permanecerá após a sua morte. Quinet (2012) descreve o Outro como um lugar anterior ao advento do sujeito, uma instância que já “falava” do sujeito antes mesmo de seu nascimento. O sujeito vai se constituir na medida em que o Outro se relaciona com ele. Portanto, o Outro atua como um lugar da ordem do simbólico, aquele que o sujeito sempre recorrerá na busca de um lugar, de reconhecimento, ou seja, na busca por amor, mas não será capaz de alcançar em sua totalidade, pois ao Outro falta. O sujeito relaciona-se com o Outro, por meio da intervenção do pequeno outro, que se trata de um outro semelhante. Em outras palavras, trata-se de outro sujeito humano.

Sobre o outro, Quinet (2012) apresenta alguns pontos a partir da teoria lacaniana e diz que o eu é o outro. O autor explana que “o eu e o outro se confundem” (p. 9), sendo que o sujeito projeta conteúdos e pensamentos do eu e se enxerga no outro. É por isso que ocorre determinada confusão, pois o sujeito identifica seus traços no outro e identifica-se em termos de seu eu ideal que, por vezes, admira, rivaliza e também inveja. Quinet (2012) embasa-se no pensamento de Freud que defende que o eu ideal corresponde a um “modelo à imagem e à semelhança do qual o eu se constitui, é encarnado pelo eu ideal.” (p. 9).

O autor articula sobre o outro como sendo o eu ideal atravessado pelo Ideal de Eu simbólico da seguinte forma: “imagem desenhada e esculpida pelos significantes do Outro, aqueles que constituem o Ideal do eu que na verdade, é o Ideal do Outro. (...) O sujeito passará a vida tentando se igualar ao eu ideal.” (p. 17). Dessa maneira, o sujeito disputa com o outro pela atenção e amor do Outro. O sujeito se relaciona com diversos outros porque tenta constantemente ser desejado e aceito pelo Outro. No início, a mãe do bebê é o outro semelhante que exerce também a posição deste Outro.

Sobre a relação com o Outro simbólico e o outro imaginário, Lacan (1949/1998) introduz a função do estádio do espelho, que o possibilitou pensar o estabelecimento da relação do sujeito com a realidade. É a partir do Outro que o sujeito terá contato com a realidade e também a primeira identificação que permitirá o surgimento do eu como instância imaginária: “A função do estádio do espelho revela-se para nós desde então como um caso particular da função da imago, que é a de estabelecer uma relação do organismo com sua realidade” (p. 100).

É na relação com o Outro que o bebê tem a possibilidade de constituir sua subjetividade, pois o bebê se torna capaz de acessar uma posição que lhe seja própria para que possa constituir-se como sujeito (Lacan, 1949/1998).

PATHOS / V. 07, n.04, 2018 57

Σ