Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 7º Volume | Page 43

Piaget (2010, p.199), ao tecer algumas considerações sobre as características dos símbolos lúdicos destacou que “[...] cada um dos personagens do meio ambiente da criança o ocasiona, em suas relações com ela, uma espécie de “esquemas afetivos” [...] difíceis de explicar de outro modo, a não ser por uma assimilação inconsciente com modos de comportamento passados”.

Essa assimilação inconsciente referida por Piaget é o que caracteriza o jogo e a ação de jogar. Para o autor, o jogo só se constitui enquanto tal quando há assimilação sem esforço adaptativo da qual seria um deslocamento do interesse do indivíduo para a sua própria ação, independente de sua finalidade. Assim, “[...] o que era adaptação inteligente converte-se, pois, em jogo [...]” (Piaget, 2010, p. 105). Em outras palavras, o que era uma ação consciente tendendo para o equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, torna-se inconsciente pelo puro prazer funcional, pois a assimilação, conforme o autor, prolonga a acomodação. Neste sentido, ressaltou que o jogo só teria seu início quando houvesse de fato “[...] uma modificação de grau variável das relações de equilíbrio entre o real e o eu [...] a atividade e o pensamento adaptados constituem um equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, o jogo começa desde que a primeira leva vantagem sobre a segunda” (Ibidi, p.169). Dito de outra forma, só seria jogo se estivesse no âmbito da assimilação pura do simples prazer funcional, pois esta é de natureza mais inconsciente. Em contrapartida, a acomodação evidencia um caráter de consciência, em virtude da assimilação estar em equilíbrio com a acomodação.

Piaget (2010) classificou o jogo em função da estrutura mental do sujeito. Isto significa que a natureza do jogo está relacionada estritamente ao desenvolvimento do sujeito, adstrito a característica do pensamento atual do mesmo. Nestes termos, pode-se compreender com mais propriedade como o sujeito se relaciona ludicamente com o objeto de conhecimento e se insere na relação do jogar. Assim, baseado na perspectiva do desenvolvimento humano estipulou os tipos de jogos em função das características fundamentais da estrutura mental do individuo, e apresentou para cada uma dessas fases idades de referência para o surgimento de determinados esquemas e operações mentais: fase sensório-motora (0-2a) com suas seis sub-fases - jogo sensório motor; período do pensamento verbal e intuitivo (2-7a) - jogo simbólico; estágio da inteligência operatória concreta (7-11a) bem como a abstrata (12a em diante) - jogo regrado. Haveria o jogo de construção, porém o autor frisou que este não seria classificado como outra fase de desenvolvimento do sujeito e, sim, transformação interna do símbolo que acontece dentro de cada uma das três fases. Vale ressaltar que Piaget especificou que em cada período de desenvolvimento do jogo haveria a fase de transição que se daria de uma fase para outra.

PATHOS / V. 07, n.04, 2018 42

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