Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 7º Volume | Page 42

O autor segue destacando que “[...] para poder ser, e para ter o sentimento de que é deve-se ter uma predominância do fazer pelo-impulso sobre o fazer-reativo” (Ibidi), pois o fazer pelo impulso indica que a vida da pessoa não passa de reação a estímulos e, para o autor, reagir aniquila o self. É neste sentido que o Winnicott (1996, p.33) pontuou que se faz necessário viver criativamente e isto significa “[...] ver tudo como se fosse a primeira vez. [...] A criatividade é, portanto, a manutenção através da vida de algo que pertence à experiência infantil. A capacidade de criar o mundo”.

Desta maneira, vê-se o grau de importância estabelecido pelo autor para o brincar e este para o desenvolvimento integral do sujeito, pois para ele essa relação é saúde. Winnicott (1982, p. 164) ao afirmar que “a brincadeira estabelece o elo entre a realidade interna e externa do sujeito, mantendo-o íntegro” revelou a importância do exercício simbólico para a constituição do sujeito. Outrossim, ao pontuar que “a brincadeira fornece uma organização para a iniciação de relações emocionais e assim propicia o desenvolvimento de contatos sociais” (Ibidi, p. 163) traduziu os meandros envolvidos nessas relações interpessoais das quais, destaca-se, podem ser desenvolvidos de maneira favorável como desfavorável, podendo formar simpatias e antipatias, a construção de amigos e inimigos, pois o brincar implica relacionamentos entre pessoas e grupo. Winnicott (1942) elencou determinadas motivações que o sujeito aciona quando da atividade lúdica, a saber: buscar o prazer; possibilidade de expressar agressão; controlar a ansiedade; estabelecer contatos sociais; realizar a integração da personalidade; e, por fim, comunicar-se com as pessoas. É neste sentido que o brincar revela uma comunicação do sujeito consigo mesmo, com as pessoas e com o mundo sendo, portanto, uma forma de comunicação na psicoterapia, pois para o autor, é fundamental “Ser antes de fazer. O Ser tem que se desenvolver antes do Fazer” (p.33).

Piaget (2010), por sua vez, também estabeleceu a importância do jogar para o desenvolvimento do indivíduo, pois para ele haveria uma relação análoga entre as fases de desenvolvimento do sujeito e as classificações que estabeleceu para o jogar. Ressalta-se que o autor não faz uso do termo brincadeira em seus escritos, no entanto, faz menção ao constructo “jogo” para estabelecer, de forma psicogenética, as raízes da ação lúdica por parte do sujeito. Assim, segue sublinhando que haveria um desenvolvimento na maneira como as crianças jogam, principiando do puro exercício motor às relações simbólicas e regradas com o objeto.

PATHOS / V. 07, n.04, 2018 41

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