Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 7º Volume | Page 36

Considerando que as entrevistas das quais as falas são oriundas, se deram em 2017, podemos perceber que ranços históricos permanecem na lógica institucional, impedindo que a doutrina das atuais normativas se estendam às práticas voltadas à infância e juventude.

A existência da medida socioeducativa de internação revela, entre outros pontos da nossa (des)organização social, a ausência de outros equipamentos que deveriam compor um cenário da política pública, voltada a superação das desigualdades sociais (Gonçalves, 2010), entretanto, as contradições emersas nos conflitos entre privação de liberdade e garantia de direitos, já impõem, de partida, diversos impasses.

Desta forma, devemos abarcar que enquanto esta for a medida entendida socialmente, a mais adequada para corresponder e responsabilizar os autores de atos infracionais, os profissionais da psicologia terão a incumbência de, em seu interior institucional, apontar para os desrespeitos a esses direitos e buscar espaços para a “oxigenação” do cotidiano institucional.

O que torna possível a atuação de psicólogos em meio a redes de relações institucionais são as necessidades ou demandas no contexto constitucional dado. Não são todas as necessidades apresentadas aos psicólogos que devem nortear seu trabalho. Para esse fim, interessam aquelas que, embora criadas no seio da instituição, carregam em si a negação das relações instituídas e apontam para sua superação, especialmente na direção de seu desenvolvimento humanizante. (Roman, 2009, p. 277).

Benedelli (2004), nos ajuda a situarmos o contexto no qual estamos inseridos e que nos aponta a limitação de cada um e a responsabilidade de todos sobre as instituições totais:

Muitas questões pedagógicas, psicológicas, psiquiátricas, hospitalares, de saúde coletiva, etc., podem se tornar mais inteligíveis quando enquadradas num marco institucional global. Entendemos que os problemas institucionais também são problemas sociais. Soluções técnicas muitas vezes não são suficientes para resolvê-los. Eles exigem soluções políticas para sua metabolização. A política não é uma questão técnica (eficácia administrativa) nem científica (conhecimentos especializados sobre gerenciamento ou administração), é ação e decisão coletiva quanto aos interesses e direitos do próprio grupo social. (Benedelli, 2004, p. 250)

PATHOS / V. 07, n.04, 2018 35

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