Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 7º Volume | Page 35

Além disto, pudemos perceber sobre o que falamos quando se identifica a banalização ao acesso a um determinado tratamento, em detrimento a tantos outros inacessíveis durante a internação e fora dela, ou seja, quando mencionamos a perigosa coincidência entre alguns interesses dos adolescentes em não ir a aula, em sair para respirar (no momento da consulta com o psiquiatra) e o interesse do controle dos “mais difíceis”.

Por fim, talvez possamos deixar registrada aqui a necessidade constante destas discussões sobre as contradições reveladas pelas falas destes adolescentes. Atentarmos à linha tênue entre cuidados em saúde e a imposição destes sofrimentos, seja por esta intenção mesma, ou por práticas que acabam por serem negligentes ou superficiais nas escolhas das intervenções, principalmente com os adolescentes que conseguem resistir às contradições institucionais.

Considerações Finais

As falas potencializadoras dessas reflexões proporcionadas pelos adolescentes nos permitem atentar para a responsabilidade que a/o profissional de psicologia deve ter ao permitir e facilitar esta forma de aliança entre saúde e justiça.

O adolescente inserido em medida de internação está mais vulnerável em diversos aspectos, mas sobretudo do ponto de vista de sua autonomia, fato que faz recair sobre esse profissional a responsabilidade mais intrinsecamente relacionada aos princípios éticos que devem nortear suas ações.

Além disto, pensar e cuidar das reações diante da inserção na medida de internação, desta vez olhando-as em suas individualidades, deve ser de suma importância e prioridade para o saber e práticas psi, que poderá pensar, junto a outros saberes, as melhores alternativas para amenizar seus efeitos, considerando as diferentes formas de lidar com a inevitável privação de liberdade.

Desta forma, alguns dos desafios estão postos às psicólogas e psicólogos, trabalhadores da execução da medida socioeducativa de internação. A delicadeza, especificidade e responsabilidade em identificar os adolescentes que de fato necessitam de avaliações e tratamento psiquiátricos, e o uso indiscriminado dele, bem como as razões inerentes a esta última prática, por parte dos adolescentes e da instituição na qual ambos estão inseridos.

PATHOS / V. 07, n.04, 2018 34

Σ